O presidente Nicolás Maduro e as Forças Armadas da Venezuela declararam nesta quinta-feira (2) uma ofensiva contra os "golpistas", ao reafirmarem publicamente sua aliança após a fracassada rebelião militar liderada pelo líder da oposição Juan Guaidó. Maduro e o alto comando militar apareceram diante de cerca de 4,5 mil soldados em um ato transmitido por rádio e televisão, em que o presidente pediu para que lutassem contra "qualquer golpista".
— Sim, estamos em combate, moral máxima nessa luta para desarmar qualquer traidor, qualquer golpista — disse Maduro em ato com milhares de soldados, no qual o alto comando militar reiterou sua lealdade ao presidente.
Repetindo o slogan "sempre leal, traidores nunca", o presidente assinalou que não deve haver medo frente à obrigação de desarmar as conspirações da oposição e os Estados Unidos.
— Ninguém pode ter medo. É hora de defender o direito à paz — acrescentou Maduro, que marchou com oficiais e com a tropa dentro da instalação militar. Seus apelos aconteceram após a rebelião de terça-feira (30) por parte de um pequeno grupo de soldados sob a liderança de Guaidó, reconhecido como presidente interino da Venezuela por mais de 50 países.
Armados e com veículos blindados, as tropas foram estacionadas em uma rodovia de Caracas e atacaram a oposição. Os manifestantes pediam às Forças Armadas apoio para o levante. A liderança militar ratificou, porém, sua lealdade a Maduro, e 25 militares rebeldes pediram asilo na embaixada brasileira.
Libertado pelos dissidentes de sua prisão domiciliar, o opositor Leopoldo López acabou por pedir refúgio na embaixada espanhola. No entanto, um tribunal venezuelano ordenou sua prisão nesta quinta-feira, segundo a Suprema Corte de Justiça.
A sentença ordenou que o líder seja mantido na prisão militar de Ramo Verde, fora de Caracas, onde ele cumpriu a maior parte de sua sentença de quase 14 anos por "incitar a violência" em protestos contra Maduro em 2014. A decisão do tribunal afirma que López violou "flagrantemente" a medida de prisão domiciliar que recebeu em agosto de 2017 e a proibição de fazer declarações políticas.
Nesta quinta, o presidente Donald Trump defendeu o fim da "repressão brutal" ao povo venezuelano, após a tentativa frustrada de rebelião.
— As pessoas estão morrendo de fome. Não têm comida, não têm água, e esse já foi um dia um dos países mais ricos do mundo — afirmou Trump na Casa Branca.
Lealdade e insultos
Maduro, confrontado com a pior crise econômica na Venezuela moderna, realizou atos semelhantes ao de Fuerte Tiuna em janeiro, depois que 27 oficiais militares o ignoraram e se entrincheiraram em um batalhão de Caracas, e quando Guaidó foi proclamado presidente interino, alegando que o líder socialista foi reeleito de forma fraudulenta.
Os apelos de Maduro nesta quinta foram respondidos pelo alto comando com expressões de compromisso e até mesmo insultos contra Guaidó.
— Viemos ratificar nossa lealdade ao comando supremo das Forças Armadas, que é o único presidente, o presidente Nicolás Maduro — disse o ministro-geral da Defesa, Vladimir Padrino.
O ministro, a quem Washington ofereceu suspender as sanções para que rompesse com Maduro, denunciou que os americanos pretendem comprar os militares como se fossem "mercenários" e rejeitou as tentativas da oposição de quebrar a união militar.
— Parece uma brincadeira de criança o que pretendem fazer com as Forças Armadas — disse Padrino em seu discurso.
No entanto, os termos mais severos foram feitos pelo comandante estratégico operacional, Remigio Ceballos, que chamou Guaidó de "vagabundo" e "idiota".
— Não nos deixamos ser mandados por quem não é nossa linha de comando fundamental, muito menos um idiota que finge ser presidente. Não tenhamos medo de rejeitar isso —disse energicamente Ceballos.
Repressão
Na quarta-feira, no contexto de confrontos de milhares de opositores, Guaidó advertiu que, após a insurreição militar, o regime tentaria "acentuar a repressão" e persegui-lo. Insistiu em que o povo continue nas ruas e promova uma "greve geral".
Dois manifestantes opositores baleados na terça e na quarta-feira morreram nesta quinta, elevando para quatro o número de mortos nesta semana.
A Assembleia Constituinte governista já retirou de Guaidó sua imunidade como líder parlamentar e autorizou o processo por "usurpar as funções de Maduro". Foi advertida pelos Estados Unidos de que prender o presidente autoproclamado "será o último erro da ditadura".
Os protestos também aumentaram a tensão entre Washington e Moscou, depois que o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, acusou o colega russo, Sergei Lavrov, de desestabilizar a Venezuela com seu apoio a Maduro.