O fechamento da fronteira com a Venezuela gera prejuízos e revolta a caminhoneiros brasileiros. Transportadores afirmam que mais de 500 veículos estão parados em Roraima, aguardando autorização para entrega de cargas de alimentos a empresários venezuelanos, que inclusive já pagaram pelos produtos.
A posição do governo brasileiro de impor sanções ao regime de Nicolás Maduro e encabeçar o envio de ajuda humanitária é alvo de críticas de empresários e motoristas.
Em função da crise de desabastecimento no país vizinho, o fluxo de entrada de alimentos produzidos no Brasil aumentou nos últimos meses. Responsável pelo Grupo Stella Rozzo, que possui cerca de 400 caminhões habilitados ao transporte internacional, Isaías Sobrinho condena a tentativa de envio de ajuda humanitária pelos governos do Brasil e Estados Unidos à Venezuela. Para ele, foi uma “ação política de quem não conhece a realidade da região”.
— Enviaram para cá dois caminhões que não abasteciam nada e provocaram o fechamento da fronteira por onde a gente levava toneladas de alimentos todos os dias. O (presidente) Jair Bolsonaro tem que vir para cá entender o que acontece – afirmou em entrevista a GaúchaZH nesta quinta-feira (7).
Sobrinho se refere à ação de 23 de fevereiro, quando dois caminhões de pequeno porte com remédios e alimentos foram levados até Pacaraima, na fronteira. A medida foi uma articulação dos governos brasileiro e norte-americano com o autointitulado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó. Em reação, Maduro fechou as fronteiras no último dia 21. A carga não passou, voltando a ser armazenada no Brasil.
Sanções mais duras
Agora, além de não reconhecer o governo de Maduro e apoiar o líder da oposição, Guaidó, o Planalto estuda medidas para endurecer sanções a quem mantém relações com o regime chavista, como forma de pressão. Embora recrimine as posições políticas de Maduro, Sobrinho entende que o governo brasileiro “não deveria se meter” em outro país.
— O governo Maduro derrubou impostos de importação, por isso entra a mercadoria, para atender a necessidade, e as pessoas não morrerem de fome. Eu estou com 30 toneladas de produtos parados e eles precisando — reclama.
As cargas incluem produtos básicos de higiene e alimentação - como arroz, açúcar, sal, óleo, papel higiênico e sabonete. Sobrinho diz que, até agora, só fechou contratos com empresários venezuelanos, como donos de distribuidoras e supermercados. Mas admite que não teria restrições de parcerias com o governo, seja sob o comando de Maduro ou de Guaidó.
— Não interessa quem está pagando, o meu trabalho é fazer o transporte e levar alimento para as pessoas — completou.
Além da transportadora de Sobrinho, motoristas da Cooperativa dos Transportadores Autônomos de Cargas do Norte (Coopertan) e da MH Transporte Internacional também possuem caminhões aguardando autorização para ingressar na Venezuela. Consultados por GaúchaZH, eles confirmaram que já estão com frete contratado e reivindicaram entrada no país vizinho.
Hoje, os caminhoneiros aguardam do lado brasileiro. Mas, logo após o fechamento da fronteira, 27 motoristas ficaram retidos na Venezuela por até seis dias, com dificuldade de acesso a água, alimentos e banheiros. A passagem para o Brasil foi autorizada após negociação de empresários e autoridades brasileiras.
Procurado por GaúchaZH, o Planalto ainda não se manifestou.