O líder opositor venezuelano Juan Guaidó advertiu nesta terça-feira (5) que a pressão contra o governo de Nicolás Maduro está "só começando". Ele convocou uma greve geral de funcionários públicos em uma entrevista coletiva.
— Achavam que a pressão máxima havia chegado. Saibam claramente que a pressão está só começando. Aqui está o presidente interino da Venezuela dando a cara aos trabalhadores, ao trabalho com dignidade, sem que lhe deem nada em troca — afirmou Guaidó, que mantém a ideia de promover um governo "de transição e eleições livres".
Guaidó, que lidera a Assembleia Nacional e se declarou presidente interino do país, foi reconhecido como chefe de Estado por 50 países, incluindo o Brasil. Ele encerrou o seu giro pela América Latina e retornou à Venezuela na segunda-feira (4), sendo recebido com festa por manifestantes de oposição.
Como parte da pressão contra Maduro, o legislador de 35 anos busca agora arrebatar-lhe o controle da burocracia estatal, que considera "sequestrada pelas chantagens e perseguições". Segundo Guaidó, representantes dos trabalhadores ligados à oposição lhe propuseram avançar para uma "greve escalonada na administração pública", embora não tenha dado detalhes.
Durante a era chavista, o setor público chegou a ter entre 4 e 4,5 milhões de funcionários, mas essa cifra pode ter sido reduzida devido à grave crise econômica. O PIB da Venezuela caiu 50% desde 2014, principalmente devido à hiperinflação e a escassez de bens básicos.
— A greve escalonada é uma proposta dos trabalhadores públicos para que nunca mais trabalhem para a ditadura — disse Guaidó em entrevista coletiva, na qual anunciou uma lei para proteger os funcionários de eventuais demissões.
Da reunião nesta terça participaram sindicalistas petroleiros, das indústrias básicas, governações, prefeituras, hospitais e a banca pública, entre outros, disse à AFP a dirigente Ana Yánez.
Os sindicatos ainda não anunciaram quando ou quais setores farão essas greves e acordaram se reunir nos dias seguintes com o Parlamento.
— A administração pública está praticamente paralisada. Nas prefeituras vão trabalhar somente três vezes por semana e apenas meio período — comentou Yánez.
O salário mínimo na Venezuela é de 18 mil bolívares por mês (cerca de seis dólares), que apenas dá para dois quilos de carne, devido à hiperinflação que o FMI projetou em 10.000.000% para 2019.
Com tom desafiador, Guaidó disse que o silêncio oficial diante do seu retorno mostra as contradições no círculo do "ditador", como se refere a Maduro.
— Estão mergulhados em contradições. Não sabem como responder ao povo da Venezuela — disse Guaidó a jornalistas ao ser questionado sobre como explica não haver qualquer reação por parte do governo de Maduro ao seu retorno.
Antes da sua volta a Caracas, Maduro havia declarado que Guaidó teria que encarar a Justiça por ter evadido a proibição de saída do país. Nesta terça, o governo participa de uma homenagem pelo aniversário da morte de seu antecessor, Hugo Chávez (1999-2013).
— Comandante Chávez (...), obrigado pelos seus ensinamentos e, com seu exemplo, hoje continuamos em permanente luta contra os inimigos que tentaram apagar a sua voz tantas vezes. Viverás para sempre em cada vitória! — escreveu Maduro no Twitter.