Após publicar um vídeo no Facebook denunciando o aumento dos imposto sobre os combustíveis, em 18 de outubro, a francesa Jacline Mouraud deu início ao que se tornariam os primeiros protestos do grupo que ficou conhecido como "Coletes Amarelos".
A mensagem viralizou rapidamente e as convocações para bloquear rodovias se multiplicaram nas redes sociais. Desde então, a revolta ganhou terreno e se transformou em um protesto contra o aumento do custo de vida e a política do governo em geral, tornando-se a pior crise na presidência de Emmanuel Macron.
Especialistas em internet defendem que a mudança no algoritmo do Facebook tornou a movimentação possível, ao dar mais destaque a notícias locais do que a publicações de grandes meios de comunicação. O novo sistema impulsiona "grupos de protesto", como os que afloram na França e cuja revolta tomou as ruas de várias cidades do país, de norte a sul e de leste a oeste.
— Utilizamos o Facebook para nos informar e organizar — conta Chloé Tissier, moderadora do grupo Motoristas da Normandia Furiosos, que tem mais de 50 mil membros. — Por exemplo, quando estamos erguendo uma barricada e vemos que não temos tábuas suficientes para atear fogo, escrevemos uma mensagem no grupo e rapidamente alguém as traz. Fazer isto por telefone seria impossível.
Os manifestantes, originários principalmente de povoados de províncias e zonas rurais, também têm muitos adeptos entre a população mais velha, irritados com o corte de suas pensões.
O poder dos algoritmos
— Os coletes amarelos não são um movimento estruturado, não há porta-vozes oficiais e por isso o Facebook é ideal para eles — explicou Tristan Mendes France, professor de Cultura Digital na Universidade Paris-Diderot.
Já Olivier Ertzscheid, professor de Ciência da Informação da Universidade de Nantes avaliou que sentimentos vinculados à raiva se propagam melhor na rede, já que causam mais repercussão entre os usuários.
— O Facebook oferece uma arquitetura técnica de circulação perfeitamente adaptada a um movimento que se construiu em torno da indignação — acrescentou.
Celeiro de notícias falsas
Mas junto com este fenômeno, observou-se também uma propagação de notícias falsas, que têm se espalhado como rastilho de pólvora em alguns grupos dos "Coletes Amarelos" ativos no Facebook.
Como se viu nas eleições presidenciais nos Estados Unidos e no Brasil, multiplicam-se mensagens alarmistas ou imagens que nem sempre correspondem aos protestos atuais.
—Tentamos, na medida do possível, revisar o que publicamos — afirmou Tissier. — Mas, com centenas de mensagens postadas por hora, nem sempre é possível.
Vários grupos também estão tomados de revolta contra as elites e os meios de comunicação, com comentários parecidos aos feitos entre os eleitores de Donald Trump e de Jair Bolsonaro do outro lado do Atlântico.
"Os políticos são falsos, os meios de comunicação são falsos", pode-se ler em um grupo denominado Cidadãos em Cólera, que tem 16 mil membros.
—Há uma grande desconfiança dos membros com os meios de comunicação — declarou Chloé Tissier — As pessoas confiam em nós para contar-lhes o que está acontecendo.