Os dados de 87 milhões milhões de usuários do Facebook que foram compartilhados com a empresa Cambridge Analytica geraram o maior escândalo que a empresa criada por Mark Zuckerberg já se envolveu.
Nesta terça-feira (10), o CEO do Facebook assumirá perante ao Congresso americano a responsabilidade pela falha da rede social em proteger os dados privados de seus usuários e impedir o uso indevido deles.
Na linha do tempo, entenda como o escândalo ocorreu:
2014
— O pesquisador russo-americano Aleksandr Kogan, da Universidade de Cambridge, recebeu permissão do Facebook para usar dados de usuários para fins acadêmicos.
— Por meio do aplicativo "this is your digital life", o pesquisador conseguiu que 270 mil pessoas com perfis no Facebook participassem de seu estudo compartilhando identidades, localizações e gostos. Os participantes também davam acesso à informações de seus amigos. Com isso, ele obteve dados de 87 milhões de usuários. No Brasil, segundo Mark Zuckerberg, o número foi de 443.117 perfis.
— Kogan recebeu 800 mil dólares da Cambridge Analytica para fornecer acesso às informações. A empresa de consultoria política, especializada em comunicação estratégica, é suspeita de ter usado os dados em favor campanha de Donald Trump e influenciado no referendo pré-Brexit, que decidiu pela separação do Reino Unido da União Europeia.
2015
— O Facebook soube das ações de Kogan e da Cambridge Analytica em 2015. Na ocasião, a empresa baniu o pesquisador da rede social e exigiu garantias de que a Cambridge Analytica havia excluído os dados.
— Zuckerberg afirmou que só soube que a consultoria ainda mantinha os dados por meio das reportagens publicadas em 17 de março. O executivo não esclareceu por que não informou os usuários sobre o problema em 2015.
2018
— De acordo com reportagens publicadas pelos jornais The New York Times e The Guardian, em 17 de março, a consultoria também poderia agir em eleições na Índia e este ano no Brasil. A Cambridge Analytica nega qualquer irregularidade, mas foi suspensa pelo Facebook.
— Após o escândalo, começou um movimento de boicote à rede de Mark Zuckerberg. Famosos da indústria da tecnologia e celebridades estão aderindo à campanha #DeleteFacebook, que incentiva os usuários da rede social a deletarem suas contas. A lista de celebridades que apagaram seus perfis conta como o ator Jim Carrey, a cantora Cher, o co-fundador da Apple, Steve Wozniak. Todos eles usaram outras redes para promover o boicote ao Facebook.
— Além disso, o Facebook entrou na mira de governos e agências regulatórias nos Estados Unidos e na Europa, três dias depois das revelações. Em 20 de março, o parlamento britânico convocou o presidente do Facebook a prestar esclarecimentos. Do outro lado do Atlântico, a agência reguladora de comércio americana (FTC, na sigla em inglês) começou uma investigação sobre o assunto.
— A repercussão também atingiu Wall Street: nos dois dias seguintes às revelações, o Facebook chegou a perder US$ 60 bilhões em valor de mercado - encerrou o pregão de 20 de março valendo US$ 488,5 bilhões, ou US$ 49 bilhões a menos que no fechamento da bolsa Nasdaq na sexta-feira (16).
— Zuckerberg, sozinho, perdeu US$ 7,3 bilhões de sua fortuna pessoal desde que as reportagens sobre o caso começaram a sair. As ações da empresa caíram cerca de 15% nas três semanas desde que o mau uso dos dados da Cambridge Analytica se tornou público.
— A empresa Cambridge Analytica anunciou, ainda em 20 de março, a suspensão de seu presidente executivo. Alexander Nix foi afastado "com efeito imediato e à espera de uma investigação completa e independente", indicou a empresa de consultoria em comunicado.
— Em 28 de março, o Facebook anunciou que tomaria "medidas adicionais" para dar aos usuários um controle maior de seus dados privados. No dia seguinte, a rede social viu seus problemas aumentarem após um memorando escrito por um alto executivo vir à público relatando que a empresa estava determinada a crescer, apesar dos riscos para seus usuários. O memorando escrito por Andrew Bozworth, amigo de Zuckerberg, e datado de 2016 foi divulgado pelo site de notícias "Buzzfeed". "A verdade nua e crua é que acreditamos tanto em conectar as pessoas que qualquer coisa que nos permita conectar mais pessoas de maneira mais frequente é 'de fato' boa", diz o texto.
— Nesta terça- feira (10), Zuckerberg participa de audiência sobre o caso no Congresso dos Estados Unidos. De acordo com o discurso, divulgado na segunda-feira (9), o CEO da empresa assumirá a responsabilidade pelos fatos. "Não fizemos o suficiente para evitar que estas ferramentas fossem usadas de maneira maliciosa (...) Não tivemos uma visão suficientemente ampla de nossas responsabilidades e isso foi um grande erro. Foi erro meu e eu sinto muito", dirá Zuckerberg.
— No início de abril, Zuckerberg admitiu que o Facebook provavelmente levará "alguns anos" para resolver os problemas sobre o uso irregular de dados privados de usuários da rede.
— Para reverter a crise, Zuckerberg aumentou o rigor, nas últimas semanas, das suas políticas de compartilhamento de dados e implementou um sistema simplificado para seus usuários controlarem suas configurações de privacidade e segurança.