Por mais de cinco horas, nesta terça-feira (10), Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, sentou diante dos congressistas dos Estados Unidos para dar explicações sobre o uso indevido de dados e esclarecer a acusação de que essas informações tenham interferido na eleição de Donald Trump à presidência. Em 17 de março, reportagens dos jornais The Guardian e New York Times revelaram que a empresa de consultoria política Cambridge Analytica teve acesso a dados sigilosos e os utilizou para traçar estratégias que teriam beneficiado o então candidato republicano à Casa Branca.
Os dados também teriam influenciado no referendo pré-Brexit, que decidiu pela separação do Reino Unido da União Europeia. A empresa de consultoria poderia, ainda, agir em eleições na Índia e no Brasil. No Congresso, Zuckerberg reforçou que a sua maior prioridade sempre foi a "missão social de conectar pessoas, construir comunidades e aproximar o mundo".
— Anunciantes e desenvolvedores nunca terão prioridade sobre isso enquanto eu estiver usando o Facebook — disse, praticamente resumindo o texto que foi divulgado na segunda-feira (9).
O presidente do Facebook explicou, ainda, que a empresa está fazendo auditoria para descobrir se há outros casos de transferência imprópria de dados e alertou que a rede social está mais "proativa" desde a revelação do caso. Questionado sobre os motivos que as pessoas têm para acreditar que o Facebook será mais confiável a partir deste episódio, pontuou ser "praticamente impossível iniciar uma empresa pequena e transformá-la neste tamanho sem cometer erros".
Zuckerberg se comprometeu a descobrir se os funcionários do Facebook trabalhavam diretamente com os funcionários da Cambridge Analytica durante a campanha de Trump. Ele afirmou, na primeira etapa de seu depoimento, que a consultoria não foi banida em 2015, quando o Facebook soube que a empresa britânica tinha dados de seus usuários, porque a consultoria política não usava nenhum dos serviços da rede social.
— Não tínhamos do que bani-los.
Após uma pausa para descanso, ele corrigiu a informação. Disse que a empresa estava, sim, na plataforma na ocasião e não foi banida.
— Foi um erro não ter banido.
Ele disse também que, quando soube que a Cambridge Analytica não havia deletado os dados de 87 milhões de usuários, o Facebook não notificou os afetados porque considerar um "caso encerrado".
O bilionário empresário de 33 anos se desculpou perante legisladores americanos e repetiu que "está claro agora" que a empresa não fez "o suficiente" para evitar que as ferramentas ligadas ao Facebook sejam usadas para objetivos nocivos.
— Isto se aplica à divulgação de notícias falsas, à interferência estrangeira em eleições e ao uso do discurso de ódio— destacou.
Sobre a venda de dados pessoais, o executivo esclareceu que as empresas anunciantes comunicam ao Facebook qual é o público-alvo do anúncio, e a rede social cuida de exibir as peças publicitárias para esse grupo de interesse.
O senador John Thune questionou por que se deveria acreditar no Facebook agora se a empresa tem um histórico de se desculpar inúmeras vezes em função de seguidos problemas.
— Estamos passando por uma mudança filosófica mais ampla em como abordamos nossa responsabilidade como uma companhia — respondeu Zuckerberg ao republicano, acrescentando que a mensagem-chave que gostaria de passar é que a empresa "aprendeu" e está "crescendo":
— Não podemos apenas construir ferramentas, precisamos policiar nosso ecossistema em uma maneira mais estrita.
O criador da rede social também foi questionado se o Facebook poderia deixar de ser gratuito.
— Sempre haverá uma versão gratuita — garantiu.
O senador John Kennedy iniciou seu tempo de fala de maneira humorada, afirmando para o presidente do Facebook que vinha em "paz", mas logo em seguida criticou os temos de contrato da rede social:
— Seu acordo de usuário é uma droga.
Em resposta à senadora Tammy Baldwin, Zuckerberg confirmou que Aleksandr Kogan, psicólogo que desenvolveu o aplicativo para a Cambridge Analytica, vendeu os dados para outros usuários.