Após receber um ultimato do próprio partido neste domingo (19), o ditador Robert Mugabe (Zanu-PF), 93 anos, deve deixar a Presidência do Zimbábue, posto que ocupa desde 1980, segundo uma fonte próxima ao governo. A legenda o retirou da liderança da sigla e anunciou que apresentará ao Parlamento um procedimento de impeachment se o presidente não renunciar até segunda-feira (20).
A informação acerca da renúncia é de uma fonte próxima a Mugabe, em resposta a um questionamento sobre o conteúdo da mensagem que o ditador fará, ainda neste domingo, por televisão. Mugabe lidera o Zimbábue com mão de ferro desde a independência. Sob sua liderança, o país empobreceu e hoje atravessa uma profunda crise econômica que provoca descontentamento crescente entre a população.
Pela manhã, o porta-voz do Zanu-PF, Simon Khaye Moyo, declarou, após reunião do partido para discutir a profunda crise política do Zimbábue, que o presidente precisa renunciar até o meio-dia de segunda para evitar o impeachment. Mugabe foi expulso do próprio partido e substituído pelo ex-vice-presidente Emmerson Manangagwa. A primeira-dama do Zimbábue, Grace Mugabe, também foi expulsa da legenda.
— A esposa de Mugabe e outros se aproveitaram da delicada situação para usurpar o poder e saquear os recursos do Estado — afirmou um dirigente do partido, Obert Mpofu.
Crise institucional com militares no controle
O partido político era até agora um aliado fiel de Mugabe. No entanto, desde que o exército tomou o controle do país, a sigla defende que o presidente deveria se "aposentar para descansar como homem de Estado idoso que é".
O pontapé para a dança nas cadeiras foi dado na manhã de sábado (18), com um protesto pacífico de milhares de manifestantes nas ruas da capital Harare para pedir que o ditador, cada vez mais abandonado por seus aliados, deixe o poder. A mobilização é apoiada pelas Forças Armadas, que controlam o país, impõem ao presidente prisão domiciliar e o pressionam a renunciar.
Neste domingo, o chefe do exército, Constantino Chiwenga, reuniu-se com Mugabe no palácio presidencial. Não se sabe o conteúdo da reunião. Pela manhã, os veteranos de guerra da independência do Zimbábue pediram a renúncia de Mugabe.
— Ele deveria renunciar. Se não fizer, isso, o exército deve terminar logo com ele — afirmou o chefe da poderosa associação de veteranos de guerra, Chris Mutsvangwa, horas antes da reunião de Mugabe com os militares.
Quem é Robert Mugabe
Formado em História, Inglês, Direito e Economia, o ex-guerrilheiro marxista Robert Mugabe revelou múltiplas faces nos 37 anos em que comanda o Zimbábue. Em 1979-1980, quando a vizinha África do Sul vivia sob a segregação do apartheid, a então Rodésia surgia ao mundo como um modelo para o continente.
Após a guerra civil pela independência da Grã-Bretanha, a qual deixou 27 mil mortos, eleições alçaram o intelectual guerrilheiro - que já cultivava o bigode da largura de um minguinho - a primeiro-ministro com discurso de união racial e distribuição de riquezas. Em momentos de popularidade e reconciliação, foi comparado a Nelson Mandela e Barack Obama.
De conciliador, passou a um autoritário bilionário disposto a reprimir qualquer oposição. Mugabe é acusado pela oposição por vencer eleições em pleitos repletos de perseguições, prisões, assassinatos, torturas e fraudes.