Milhares de manifestantes saíram, neste sábado (18), às ruas de Harare para pedir que o presidente Robert Mugabe, cada vez mais abandonado por seus aliados, deixe o poder no Zimbábue. A mobilização é apoiada pelo Exército, que assumiu o controle do país nesta semana.
"É muito tempo, Mugabe tem que sair", "Descansa em paz, Mugabe", e "Não à dinastia Mugabe" eram cartazes exibidos pelos manifestantes.
Estes protestos contra Mugabe, que começaram de forma pacífica na manhã deste sábado, encerram uma semana de crise política sem precedentes no Zimbábue, onde as Forças Armadas tomaram o controle do país e colocaram em prisão domiciliar o chefe de Estado, no poder desde 1980.
Com 93 anos, o chefe de Estado está cada vez mais isolado, depois que seus aliados o abandonaram: depois do exército e dos veteranos da guerra da independência, foram as seções regionais do partido presidencial Zanu-PF que, na noite de terça-feira (14), pediram que ele abandonasse o poder.
— Tenho 30 anos. Imagine, nunca trabalhei. Isso por causa do regime de Mugabe. Por isso, pedimos mudança — explicou um manifestante, Kelvin Shonhiwa.
Os militares estavam presentes nas ruas de Harare, mas, desta vez, os manifestantes os saudavam e apertavam suas mãos. Alguns, inclusive, tiravam fotos junto ao chefe do Estado-Maior, o general Constantino Chiwenga.
Possível sucessor
Na véspera, o ex-vice-presidente do Zimbábue, Emmerson Mnangagwa, cuja destituição provocou um golpe militar, voltou ao país. Considerado até pouco tempo como sucessor de Mugabe, fugiu do Zimbábue após ser destituído em 6 de novembro por "deslealdade" para com o presidente.
Na quinta-feira (16), Mnangagwa retornou a Harare algumas horas depois de o exército deixar as ruas e liberar Mugabe. Seu nome é um dos mais fortes para conduzir uma transição que encerraria o reinado de Mugabe.
Na sexta-feira (17), o presidente apareceu pela primeira vez em público desde o golpe militar, um novo sinal de sua intenção de se manter no poder, ao participar de uma cerimônia de entrega de diplomas na Universidade de Harare.