O escândalo global de corrupção envolvendo a Odebrecht ameaça agora o presidente do México, Enrique Peña Nieto, cuja campanha eleitoral teria recebido dinheiro do grupo brasileiro, segundo uma investigação publicada nesta segunda-feira (23).
A denúncia ocorre logo após a destituição do procurador eleitoral mexicano Santiago Nieto, que cuidava do caso, sob a acusação de violar o devido processo e a presunção de inocência com a divulgação de detalhes do caso.
Segundo a organização Mexicanos Contra a Corrupção e a Impunidade (MCCI), a Braskem — petroquímica da Odebrecht — fez transferências bancárias totalizando US$ 1,5 milhão entre maio e junho de 2012, em plena campanha presidencial, a uma empresa ligada a Emilio Lozoya, homem de confiança de Peña Nieto e coordenador internacional da campanha.
A Braskem era então uma importante contratada do governo mexicano, pois construía um polo petroquímico no estado de Veracruz, no leste do país.
— Acompanhamos o tempo todo a campanha do partido PRI e do atual presidente Enrique Peña Nieto — disse Carlos Fadigas, ex-diretor da Odebrecht no México, durante uma reunião com investidores em fevereiro de 2013, segundo a investigação.
Fadigas, que hoje é testemunha na Justiça brasileira do caso Odebrecht, afirmou que tal "acompanhamento" não envolveu apenas Peña Nieto, mas também "sua equipe" de campanha, recorda a MCCI.
O procurador Santiago Nieto foi afastado após conceder entrevista a um jornal local sobre o conteúdo de uma carta que Lozoya enviou ao seu gabinete, na qual pressionava para que declarasse sua inocência.
Lozoya, designado por Peña Nieto diretor da estatal do petróleo Pemex, negou em agosto à Procuradoria ter recebido suborno de executivos da Odebrecht.
O ex-diretor da Odebrecht no México Luis Alberto de Meneses Weyll disse à Justiça brasileira que Lozoya recebeu US$ 10 milhões da Odebrecht em troca de obras públicas, segundo a imprensa brasileira.
O MCCI assinala que Peña Nieto manteve quatro reuniões, entre 2010 e 2013, com Marcelo Odebrecht, cuja delação premiada sacudiu os círculos do poder na América Latina, provocando a prisão de altos funcionários no Brasil, no Peru e na Colômbia.
Uma dessas reuniões, que é citada em e-mails identificados pela polícia brasileira, durou duas horas e ocorreu em algum lugar do México, em outubro de 2011, quando Peña Nieto já aparecia como candidato à presidência.
Outro encontro ocorreu no Brasil, em abril de 2010, quando Peña Nieto era governador do Estado do México, e mais duas no México, em novembro de 2012 e outubro de 2013.