A ex-procuradora-geral venezuelana Luisa Ortega assegurou nesta quarta-feira (23), em Brasília, contar com "muitas provas" que envolvem em redes de corrupção o presidente Nicolás Maduro, a quem acusou de favorecer a ocultação de investigações sobre casos de corrupção, narcotráfico e terrorismo.
Ortega, 59 anos, disse ter recebido ameaças de morte e recebeu um forte apoio de seus pares sul-americanos reunidos em uma cúpula, antes de ser recebida pelo chanceler brasileiro, Aloysio Nunes.
– O que acontece na Venezuela é a morte do Direito. A estabilidade da região está em perigo – disse a ex-funcionária, acolhida como "legítima procuradora-geral da Venezuela", nas palavras do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
– Não há garantias de que na Venezuela alguma investigação relacionada ao crime organizado, ao tráfico de drogas e à corrupção tenha uma condenação, uma sanção (...), porque o mais provável é que as provas obtidas, provas que sejam enviadas à Venezuela, desapareçam – afirmou.
– Há muitos interesses na Venezuela para que não investiguem os casos de corrupção, os casos relacionados ao tráfico de drogas, ao terrorismo – insistiu Ortega, que fugiu na sexta-feira (18) para a Colômbia, onde lhe foi oferecido asilo político.
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O governo venezuelano busca Ortega por suposta participação em um esquema de corrupção e anunciou que vai pedir sua captura via Interpol, mas a ex-procuradora-geral não parece temer uma eventual extradição.
– Continuarei lutando, continuarei percorrendo o mundo para denunciar o que acontece na Venezuela e denunciar a violação aos direitos humanos – declarou.
O ponto de ruptura, detalhou, foi a formação no país de uma Assembleia Constituinte, que suplantou o Poder Legislativo "vulnerabilizando a soberania popular".
O fantasma da Odebrecht
A dissidente disse ter "muitas provas, e concretamente no caso relacionado à empreiteira Odebrecht, que comprometem muitos funcionários venezuelanos de alto escalão, começando pelo presidente da República", assim como dois de seus principais substitutos, "os membros da Assembleia Constituinte Diosdado Cabello e Jorge Rodríguez".
Ortega antecipou que cederia esse material a outros países para que avancem com as investigações e afirmou que, no caso Odebrecht, detectou que Cabello, um dos homens fortes da Venezuela, recebeu "US$ 100 milhões de uma empresa denominada espanhola (...) cujos proprietários são seus primos".
A empreiteira confessou ter dado propinas a funcionários de América Latina e África, uma ação que colocou em xeque presidentes e ex-presidentes, e desatou um confronto entre o poder judiciário e político em vários países.
Ortega disse que tudo isso faz com que tema por sua vida.
– Tenho ameaças que podem atentar contra a minha vida e responsabilizo o governo venezuelano se isso chegar a acontecer – assinalou Ortega, que planeja voltar para Bogotá.