O diretor-geral do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), Maurício Loss, diz que os avisos sobre problemas em casas de bombas de Porto Alegre, realizados em processo ao qual o Grupo de Investigação da RBS (GDI) teve acesso, podem não ter tido andamento em razão da "demanda" de trabalho, o que impediu que o órgão chegasse às unidades 13, 17 e 18 "em tempo hábil".
Na entrevista abaixo, Loss enumera ações realizadas pelo Dmae no sistema de proteção da Capital e diz porque obras apontadas como necessárias por engenheiro do órgão não foram realizadas.
Que problemas vocês detectaram nas casas de bombas com esse episódio?
Identificamos que tem estações de bombeamento que estão num nível muito próximo ao Guaíba. Conforme o nível que o Guaíba subiu, colocou água para dentro e aí causou a inundação. De fato se identificou erro de concepção, erro de engenharia na época da construção, que essas casas de bombas teriam que ter sido construídas mais altas, com motores mais elevados, com poço de saída — depois que ela bombeia, a água vai por um poço de saída, por uma tubulação até chegar no Guaíba. Esse poço também deveria ser mais alto para proteger, para ter uma cota mais alta em relação ao nível do Guaíba.
O Dmae tinha conhecimento de algumas dessas situações? Há registros de problemas já em 2018
Tem erros que surgiram só agora, porque agora que foram submetidos a um teste forte. O sistema nosso de proteção contra cheias sempre foi submetido a uma cota de 3m10cm, 3m15cm, 3m46cm (em novembro). Com 5m35cm nunca tinha sido feito esse teste. Se essa inundação tivesse ocorrido na década de 1980, esses mesmos problemas teriam vindo à tona e de lá para cá teriam sido sanados. Então recai agora, no nosso colo, diante desse teste, para a gente então partir para uma reanálise, releitura de todo o sistema e corrigir essas falhas.
Em novembro, houve aviso em processo dentro do Dmae sobre problema nas casas de bomba (17, 18 e 13) que poderiam, em caso de muita elevação do Guaíba, causar grandes alagamentos. Por que não teve solução?
Talvez pela demanda. Nós também identificamos problemas nas casas de bomba 3, 4 e 5, que ficam no Humaitá/Navegantes, muito antes das enchentes, o Dmae já tinha contratado um novo estudo de concepção dessas casas e já está em desenvolvimento de projetos (foi contratado em 2022 e ainda não estão concluídos). Ali se identificou que precisa estações de bombeamento novas, vai ser desenvolvido isso, e a rede de macro e microdrenagem também. Só naquela região, toda essa melhoria de casas de bombas novas, de redes de macro e microdrenagem (grandes galerias) e mais a rede de cloacal, que tem partes que não têm, a gente estima se gastar nos próximos anos entre R$ 550 milhões e R$ 600 milhões. Mas com certeza não tinha havido tempo hábil ainda para que o Dmae chegasse nessa casa 18, 17 e 13.
Mesmo com o alerta de novembro?
É, porque não são obras simples, requer contratação de projeto e isso requer licitação. Tem a mazela do poder público envolvida também. Não é "estamos com problemas, vamos contratar e semana que tem uma empresa". Havia todo um plano de investimento, um plano de gastos que tem que ser distribuído esse recurso, até porque não existe um recurso destinado à drenagem, o Dmae tem que utilizar o recurso que vem da água e do esgoto e destinar parte desse recurso para a drenagem, então é um quebra-cabeça que com certeza nãos e resolve da noite para o dia.
No processo, há indicação de medidas mais imediatas, paliativas, como a vedação das janelas da casa de bombas 13
O grande problema está no poço de saída. A força do Guaíba exerceu força e fez com que a água então voltasse do Guaíba para dentro. Não foi uma inundação ao redor que causou o problema. Sempre o ponto de partida do problema é da rede, que deveria ser de saída e acabou sendo de entrada. E isso foi identificado agora porque só agora o nível do Guaíba atingiu tal cota que exercesse essa pressão contra.
Aumentar as paredes não é uma medida mais simples de executar?
Tem que ser uma parede extremamente robusta para aguentar a força da água. São casas de bombas meio pequenas, são motores grandes e nós temos que ter para uma parede ter, com uma largura tal, robusta, ter pontos de fixação para ela não cair, até em cima de um operador, caso a força seja tanta, então, por isso, tem que contratar um projeto de engenharia, precisa cálculo estrutural.
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