Modalidades de loterias semelhantes ao Bono a Estrela, que é vendido em ruas do bairro Guajuviras, um dos mais populosos de Canoas, na Região Metropolitana, já foram alvo de investigações policiais em outras regiões do país. No RS, grupo de colombianos coordena a jogatina, que também é comercializada em bairros da zona norte de Porto Alegre, conforme constatou o Grupo de Investigação da RBS (GDI), que monitorou a situação por duas semanas.
Na Bahia, em maio de 2022, a Polícia Civil desencadeou a operação Cai quem Quer, que desbaratou um jogo idêntico ao promovido no Rio Grande do Sul, a começar pelo nome: Bono Estrela (sem o a). Foram apreendidos num condomínio da cidade de Teixeira de Freitas equipamentos para sorteios, placas de entidades beneficentes, equipamentos de escritório, megafones, computadores, câmeras de vídeo e dinheiro, além de cartelas.
Além do material apreendido na Bahia, dois colombianos foram presos e indiciados por exploração de jogos de azar e lavagem de dinheiro. Investigação sobre atuação deles em Minas Gerais também é checada por policiais.
— Faziam os sorteios sem qualquer regulamentação. A ausência de licença do Ministério da Fazenda caracteriza a exploração do jogo de azar. Os presos admitiram que vêm ao Brasil para trabalhar especificamente com isso e que seu patrão é colombiano — conta o delegado Bruno Ferrari, responsável por essa operação.
LEIA OUTRAS PARTES DESSA REPORTAGEM
+ Coordenada por grupo de colombianos, loteria ilegal é vendida nas ruas da Região Metropolitana
+ Cartelas em espanhol, vendas com megafone e sorteios adiados em razão da chuva: como funciona a loteria ilegal Bono a Estrela
Sorteio dos Amigos ou Cinco pra 500
Outra investigação transcorre em Pernambuco. A Polícia Civil realizou, em maio, a operação Cumbia, batizada em homenagem à mais colombiana das danças. O alvo, como o nome indica, foram colombianos, dedicados à prática de jogos de azar e lavagem de dinheiro.
Em Pernambuco o jogo também é chamado Sorteio dos Amigos ou Cinco pra 500, numa referência aos valores pagos para cada aposta vencedora. Os bilhetes são iguais aos vendidos no Rio Grande do Sul.
Os policiais concluíram que os colombianos atuam em vários núcleos, tanto que a operação foi desencadeada, de forma simultânea, em Pernambuco, Alagoas, Maranhão e são feitas investigações também no Amazonas e Amapá, informa o delegado pernambucano Adyr Almeida, responsável pela Operação Cumbia.
— Aqui eles vendem cartelas, com números, durante o dia. Contratam jovens para vender essas cartelas, geralmente no centro da cidade. No fim do dia, 16h ou 17h, eles montam um globo pra fazer extração dos números. A pessoa que comprou aquela cartela com o número sorteado ganha R$ 500. A gente percebe que é uma rede de colombianos que age no Brasil pelo crime de jogo ilegal e, consequentemente, são enquadrados por organização criminosa e lavagem de dinheiro, obtido de forma ilegal — explica Almeida.
O delegado diz que identificou 25 alvos, sendo os líderes — pai e filho — e mais 23 que trabalham para essa organização como se fossem gerentes regionais, em cidades do interior do Nordeste. Eles estão indiciados por dois tipos de delitos. O primeiro deles é contravenção penal (porque não é regulamentada pelo Estado e pode acarretar danos patrimoniais ao cidadão).
—Tanto que muitos jogos no Brasil são regulamentados pela Caixa Econômica Federal. Mas quando concentra o poder da aposta, da sorte, a uma pessoa só, ela é passível de fraude e enriquecimento ilícito. Por isso o Estado tem que tutelar.
O outro delito a que eles responderão é lavagem de dinheiro, pela ocultação de capitais advindos de produto ilícito.
— No caso, esses colombianos não declaram imposto de renda, e esse dinheiro é advindo de aposta ilegal. No momento que essa pessoa movimenta esse dinheiro, não declara para a Receita Federal — finaliza o delegado.
Almeida salienta que colombianos que vendiam cartelas similares ao Bono a Estrela (Bônus a Estrela, numa tradução livre) no Nordeste também são investigados por vínculos com a agiotagem. Eles fazem empréstimos apenas para pessoas jurídicas (comerciantes endividados, via de regra).