A cúpula da Igreja Católica na Serra foi surpreendida com a informação de que um padre usa tornozeleira eletrônica e tem proibição da Justiça Federal de se aproximar de crianças. O padre Evair Heerdt Michels é investigado pela Polícia Federal (PF) por armazenar em computadores milhares de arquivos de pornografia infantil.
O padre Leonardo Inácio Pereira, vigário-geral, que está respondendo pela Diocese de Caxias do Sul, disse que não tinha conhecimento do caso. Segundo ele, o bispo Dom Alessandro Ruffinoni, que está fora do país, também desconhecia detalhes da situação.
O Grupo de Investigação da RBS revelou nesta quarta-feira que Michels celebra missas com a presença de crianças mesmo estando proibindo de participar desse tipo de atividade. Segundo o vigário-geral de Caxias, a situação está sendo analisada pela diocese, que poderá adotar medidas. O padre investigado é da congregação Josefinos de Murialdo. Confira trechos da entrevista:
A Diocese tinha conhecimento da situação do padre Evair Heerdt Michels, que usa tornozeleira eletrônica e está proibido de ficar na presença de crianças e adolescentes?
Eu fui surpreendido. Dom Alessandro (bispo diocesano Dom Alessandro Ruffinoni ) está se inteirando. Ele não recebeu toda a comunicação. Havíamos escutado alguma coisa, muito sorrateiramente, sem aprofundamento, porque existe essa relação diplomática entre a cúria diocesana e a cúria provincial.
O senhor fala de relação diplomática. Mas a Diocese, como instância superior, não deveria ter sido informados do problema?
Nós recebemos lista com nomes dos padres, mas não investigamos a vida dos padres.
Havendo problema como esse, que não é comum e envolve uma medida extrema, como o uso de tornozeleira, vocês não deviam saber?
Eu, como pessoa física, não tinha conhecimento. Como vigário-geral estou tendo conhecimento.
O bispo Dom Alessandro sabia?
Ele me falou que tinha alguma ideia porque alguém havia lhe comunicado.
Houve comunicação oficial?
Pelo o que eu saiba não teve comunicação oficial.
E deveria ter tido?
Sem dúvida alguma. Só que as situações são as mais diversas em tantas instâncias que a gente não consegue dar conta de todas as coisas que chegam aqui no bispado.
No caso, essa situação nem chegou para vocês. Quando tiveram conhecimento?
Ontem. O que venho fazendo: venho conversando com o provincial (dos Josefinos de Murialdo), porque também não é uma situação fácil de ser administrada. Claro que a congregação toda sofre, a Igreja toda sofre, e a gente quer ajudar no que for possível. Tanto é que a comunicação estamos estabelecendo agora.
Tem alguma reunião ou medida?
Não posso tomar nenhuma decisão sozinho. Preciso da palavra do bispo. Como o bispo ainda vai conhecer a situação, com o tempo vamos ver no que podemos ajudar a congregação. Acredito que é preciso que a investigação continue, e que seja possível fazer algo para ajudar o padre, temos que ter cuidado porque é uma pessoa e a gente zela por todas as pessoas, e quando é um membro da Igreja temos que ter esse cuidado.
O senhor disse que a congregação e a Igreja sofrem. Qual a preocupação com possíveis vítimas, com os fiéis?
Vejo também com tristeza e com preocupação. É preciso existir da parte da Igreja esse outro olhar, importante ter atenção especial sobre pessoas vitimadas. Mas a questão também é saber a verdade. Eu estou sabendo por meio da mídia, vamos nos inteirar, não quero dar protocolo confiando só no que aparece na mídia.
Do que o senhor já teve conhecimento, acha correto ele celebrar missa com presença de crianças?
Não digo celebrar missa com crianças. Ele estava celebrando missas, ok, e lá deve ter tido a presença de crianças.
Mas é correto seguir em uma atividade que envolve famílias, crianças e adolescentes, mesmo havendo proibição da Justiça Federal?
Eu teria que conversar com o provincial. Eu, pessoalmente, acho que devia ter o cuidado que a Justiça pediu. Se a Justiça pediu para ele não celebrar missas...
A Justiça não fala em missa, fala em atividade com presença de crianças e adolescentes.
Se ele está celebrando missa e chega uma criança na Igreja, ele tem que sair correndo e deixar os paramentos no altar?
A Igreja sabe que crianças frequentam missas.
Não sei, talvez houve descuido em alguma situação. Eu acredito que, de repente, o fato de ter crianças na celebração não é crime. Agora, aquele padre, naquelas condições, era pedido afastamento, no caso. É muito complexo. O fato de ele estar celebrando missa e ter criança ali, isso incorre em crime?
Seria desobediência à ordem judicial?
Eu não saberia dizer. Nem falo nem em nome da Igreja.
Isso será avaliado?
Está sendo avaliado, nós todos estamos sofrendo. Isso vai nos levar a avaliar. O provincial me disse que o padre está isolado.