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Escutas telefônicas gravadas com autorização da Justiça mostram a ação das quadrilhas e o risco à saúde da população. Em investida numa fazenda de Rosário do Sul, o grupo liderado por Edson Rosa, de Canoas, decidiu botar fogo no caminhão que atolou numa fazenda.
O veículo seria usado para o transporte de gado roubado. O objetivo, conforme as gravações, seria "apagar" digitais, anotações e qualquer outro indício que pudesse identificar os criminosos.
– No caso teria de abrir o tanque, tirar o diesel ali e tocar fogo na cabine – ordena Edson na gravação.
Além da queima do caminhão, uma vaca esquecida na carroceria acabou sendo queimada viva.
– Tentaram desembarcar os animais, um deles ficou no caminhão, até porque eles colocam excesso de animais, e quando eles atearam fogo no caminhão, esse animal morreu queimado – diz o delegado Adriano Linhares.
O advogado de Edson Rosa, Nedy de Vargas Marques, disse que seu cliente "nega veementemente" as acusações.
As gravações alertam para a má qualidade da carne vendida pelos abigeatários, o que é admitido pelos suspeitos. Preso em Venâncio Aires, em junho, Geovane de Paula, o "Maninho", fazia parte da mesma quadrilha de Edson. Numa gravação, ele e um comprador conversam sobre a má qualidade da carne processada por um frigorífico de Arroio dos Ratos envolvido no esquema.
– Chega a feder – diz ele.
– Cheiro de urina que fica – concorda o comprador.
Mas isso não impede que a carne chegue a açougues e pequenos mercados.
– Em algum momento, eles disseram que a carne estava podre e iam maquiar para vender – afirma Leonardo Valente, juiz de Rosário do Sul que atua no processo.
Advogada de Geovane, Arlete Teixeira, disse que ele nega as acusações e vai provar sua inocência.
Existe ainda outra ameaça: o abate de animais dentro do período de carência da medicação usada para combater parasitas, como carrapatos. Já foram descobertos casos de rês carneada por ladrões no dia seguinte à aplicação dos medicamentos. Nesse caso, deveria ser respeitada uma quarentena de 120 dias, até as drogas serem totalmente absorvidas pelo organismo do animal. Foi o que aconteceu numa fazenda de Lavras do Sul.
– Todos os animais estavam com todo o resíduo dos produtos – afirma o criador, que teve seis animais abatidos na propriedade.
O técnico agropecuário da Secretaria da Agricultura, Cláudio Branco, adverte:
– Quem consome (a carne) está correndo o sério risco de adquirir alguns transtornos no seu organismo em virtude da ingestão dessa alta carga de medicamentos.
Vigilância particular em alta
Cansados de esperar pelas autoridades, diversos fazendeiros no Estado decidiram contratar vigilância particular e implantar sistemas de monitoramento para proteger as propriedades. Em Itaqui, na Fronteira Oeste, um segurança costuma fazer rondas encapuzado a bordo de caminhonete tracionada para proteger as fazendas. Ele afirma trabalhar para 16 criadores.
– Hoje, devo ter em torno de 70, 80 informantes, que me passam informação quando o abigeatário sai a cavalo ou quando ele sobe o Rio Uruguai – afirma o vigilante.
Em Candiota, na Campanha, câmeras instaladas nas estradas que dão acesso às propriedades conseguiram diminuir drasticamente as ocorrências, conforme o Sindicado Rural da cidade. Os mecanismos de proteção incluem ainda a criação de grupos de WhatsApp, nos quais os produtores trocam informações.
Foi dessa maneira que um pecuarista de Piratini conseguiu avisar a polícia que ladrões haviam invadido a sua fazenda, onde tinham carneado uma vaca e
30 ovelhas. Ele esperou os animais serem abatidos para depois acionar a Brigada Militar, que fez o flagrante no momento em que os animais eram transportados dentro de um automóvel Gol.