Dos 23 responsabilizados pelos calotes de R$ 157 milhões sofridos pelo Badesul, após uma sindicância coordenada pela Procuradoria-Geral do Estado (PGE) apurar o caso, dois continuam ocupando cargos de indicação política na atual gestão.
Pery Sprerotto, vice-presidente do banco de fomento, e Luiz Alberto Bairros, presidente do conselho fiscal, foram inscritos entre os responsáveis pelos contratos de financiamento assinados com a Wind Power Energy e a Iesa Óleo e Gás. Juntas, elas tomaram R$ 90 milhões (valores da época) em empréstimos junto ao Badesul, controlado pelo governo estadual e irrigado por recursos públicos. As duas empresas não pagaram as prestações e entraram em recuperação judicial pouco tempo após a concessão dos financiamentos. Como apresentaram garantias frágeis, o banco gaúcho ficou sem condições de reaver o prejuízo até o momento. No caso da Wind Power, que recebeu R$ 50 milhões, sequer chegou a ser feito qualquer investimento na planta de Guaíba, onde a promessa era construir uma fábrica de geradores de energia eólica.
Sindicância responsabiliza 23 por calotes ao Badesul
Badesul amarga calotes com empréstimos de risco
Na época da assinatura dos contratos, no governo Tarso Genro, Sperotto ocupava o mesmo cargo de vice-presidente do Badesul. Bairros era diretor Administrativo. Eles são os únicos que permanecem em cargos de indicação do controlador – o governo estadual – na gestão de José Ivo Sartori.
Os outros 21 responsabilizados são servidores de carreira, admitidos pelo regime CLT, ou dirigentes que já deixaram o banco. A investigação se concentrou em três contratos que, somados, geraram o prejuízo de R$ 157 milhões em valores atualizados.
A atual direção do Badesul enviou cópia integral do relatório da sindicância da PGE, com cerca de 10 mil páginas, para a Casa Civil. O núcleo do Palácio Piratini, como controlador do banco, deverá se manifestar sobre as situações de Sperotto e Bairros: se a responsabilização deve determinar suas saídas ou se o entendimento é de que podem permanecer nos cargos.
Sperotto é ligado ao PDT e Bairros ao PSB. Na terça-feira, procurada por ZH, a Casa Civil afirmou que ainda não tinha recebido a documentação, mas confirmou que irá fazer a análise das conclusões da sindicância para verificar a necessidade de eventuais providências.
– Os projetos eram pré-aprovados antes mesmo da análise de risco, que era pró-forma. No caso da Iesa, ela foi extremamente superficial – explicou a procuradora Adriana Krieger, coordenadora da sindicância, apontando que critérios bancários foram flexibilizados para facilitar a liberação de crédito entre 2011 e 2014.
Depois de identificar 23 responsáveis, a PGE deverá ingressar na Justiça com ações de improbidade administrativa. Em alguns casos, haverá pedido cautelar de indisponibilidade de bens.
Contrapontos
ZH procurou Pery Sperotto e Luiz Alberto Bairros via assessoria de imprensa do Badesul. Eles foram avisados do contato, mas não retornaram a ligação para se manifestar.