Um mês após a publicação da reportagem do Grupo de Investigação da RBS (GDI), que mostrou como carcaças de veículos acumuladas a céu aberto apodrecem num depósito do Detran em Viamão, o Centro de Remoção e Depósito (CRD) JAP, tem prazo de 60 dias para a retirada das sucatas. Além disso, as autoridades determinaram vistoria nesse cemitério de automóveis. Um trabalho pouco visível, que não mudou a paisagem.
Os carros ainda enferrujam sob o sol, no Centro de Remoção e Depósito (CRD) JAP, situado na Estrada do Cocão. São centenas de veículos, muitos já sem motor e outras peças.
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O depósito guarda ao todo cerca de 1,5 mil carros de diversas origens: recuperados após furtos e roubos, acidentados e apreendidos. Parte deles, mais de duas centenas, se deterioram ao relento, em um terreno contíguo à área cercada do pátio oficial para guarda de carros. A ideia era que todos os automóveis ficassem em local cercado, mas isso não acontece. Há relatos de vizinhos sobre ladrões que aparecem à noite – em geral, viciados em crack – para depenar os veículos.
A direção do Detran promete dar fim ao problema, triturando para revenda as carcaças que não puderem ser utilizadas. Só que antes disso é preciso que engenheiros vistoriem um por um os cerca de 250 veículos largados no terreno contíguo ao CRD JAP. É verificadose as condições deles (situação das peças, motor e chassis, por exemplo) condizem com as existentes no dia em que foram recolhidos ao depósito. A maior parte dos testes foi feita comparando fotos de antes e depois dos veículos chegarem.
Após a finalização da vistoria, o Detran precisa – por lei – notificar os responsáveis pelos bens em depósito: Judiciário e Polícia, na maioria dos casos. Dessa forma, a trituração das sucatas do CRD JAP está prevista para a primeira quinzena de maio. É por isso que os carros ainda estão lá, não é possível tirá-los sem checar se foram abandonados mesmo pelos donos. A área dos veículos deteriorados ainda não está cercada.
Carros abandonados motivaram auditoria
A revelação de que os carros estavam vulneráveis à ação de criminosos motivou auditoria do Detran, que determinou medida cautelar que impede o JAP de receber novos veículos. Foi também aberto processo para responsabilização do credenciado com relação às más condições de depósito.
A reportagem do GDI também apontou sumiço de peças de um Monza guardado ao relento, no JAP. O motor está depenado, mas isso não é mencionado na ficha de recolhimento do carro, preenchida pelo depósito ao rebocar o veículo até lá. O documento apenas relata sumiço de peças não-fundamentais, como espelhos e rodas.
Uma primeira análise do Detran constatou que a ficha foi preenchida incorretamente e que o carro estava mal guardado. A possível responsabilização do depósito só acontecerá após processo administrativo, que inclui período para defesa dos suspeitos de negligência, informa o Detran. Os prazos ainda transcorrem.
A reportagem do GDI também mostrou como dois outros depósitos, privados, atuavam sem licença e vendiam peças, em Alvorada. Um deles, na Rua José do Patrocínio, no bairro Jardim Porto Alegre, foi interditado e, dos 20 carros que mantinha, só ficou com cinco. O outro, na Rua Guaíba, no bairro Tordilho, permanece aberto, de forma clandestina.