Após ser cancelado em 2023 devido à enchente no Vale do Taquari, o tradicional Desfile Farroupilha voltou a movimentar a Avenida Edvaldo Pereira Paiva, em Porto Alegre, neste 20 de Setembro. O evento foi marcado pelo retorno dos carros temáticos e por homenagens à reconstrução do Rio Grande do Sul, aos profissionais que atuaram durante a tragédia de maio e ao poeta gaúcho Jayme Caetano Braun.
As celebrações do Dia do Gaúcho também contaram com a típica presença da instabilidade. Entretanto, os períodos de chuva e vento não foram capazes de afastar o público das arquibancadas montadas às margens da Orla do Guaíba.
Em entrevista antes do início do evento, o governador do Estado, Eduardo Leite, destacou que esse é apenas seu segundo Desfile Farroupilha — já que a celebração não ocorreu nos anos de pandemia, nem no ano passado. Para Leite, esta edição tem um caráter muito especial e significativo, porque representa a identidade e o que une o povo gaúcho:
— Se em outros tempos o que a gente celebrava na Revolução Farroupilha tinha a ver com guerra, conflito e enfrentamento, hoje o que a gente celebra é a nossa capacidade de nos unirmos para enfrentar as dificuldades do dia a dia e que o clima nos impôs. (...) Esse tradicionalismo que a gente exalta hoje é uma forma de estarmos mais unidos e mais próximos como povo e, assim, termos mais força para enfrentar o que vier pela frente.
O governador também ressaltou que o desfile das forças de segurança, apesar de ser tradicional, tem um significado especial neste ano, em função da importância que tiveram para os resgates e salvamentos durante as enchentes. De acordo com Leite, profissionais de outros Estados, como Santa Catarina e Paraná, que colaboraram no período da tragédia também participaram do evento.
No total, 1.342 representantes das forças de segurança e da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) desfilaram pela avenida. As narrações do evento destacaram a atuação de cada um dos órgãos após a tragédia.
Como foram os desfiles
Previsto para iniciar às 8h30min, o primeiro desfile atrasou cerca de uma hora. Representantes das forças de segurança do Estado começaram a percorrer a avenida pouco depois das 9h30min, quando a chuva havia dado uma trégua. De acordo com a organização, a demora foi decorrente do temporal da madrugada.
Policiais militares foram os primeiros a passar pelo palanque das autoridades e pelas arquibancadas, onde já havia centenas de pessoas aguardando o início do evento. Os participantes foram recebidos com aplausos por aqueles que se dividiam entre a estrutura montada pela organização e o gradil — muitos usavam roupas típicas e seguravam bandeirinhas com as cores do RS. Dois helicópteros da Brigada Militar passaram pelo local.
Entre as pessoas que observavam da arquibancada, estava Carla Gomes da Rosa, que foi assistir a filha desfilar. Aos 15 anos, a menina faz parte da banda da Escola Tiradentes.
— Sempre tive vontade de vir, mas a gente sempre vai deixando. Agora com minha filha estudando na Escola Tiradentes, no 1º ano do Ensino Médio, eu vim assistir. Ela faz parte da banda da escola, então ela também está bem entusiasmada com esse primeiro desfile. Estamos felizes aqui — comentou Carla.
Representantes do Corpo de Bombeiros passaram pela avenida por volta das 10h30min. Botes utilizados nos resgates, veículos históricos e um helicóptero também integraram a apresentação da corporação. Alguns dos profissionais que caminhavam, levavam nas guias cachorros que auxiliam nos trabalhos. Os últimos caminhões acionaram a sirene ao passar pelas arquibancadas.
O casal Charlei Almeida, 43 anos, e Elaine Gomes, 39, acompanhava o desfile da arquibancada. Moradores de Itaqui, na Fronteira Oeste, eles vieram para Porto Alegre nesta semana para aproveitar os Festejos Farroupilhas.
— Estamos aí com a nossa filha e viemos olhar, prestigiar. Fomos no Acampamento Farroupilha, ontem (quinta-feira) estávamos lá e, saindo daqui, vamos direto. Já viemos outras vezes e está ótimo, lindo, lindo. Bem emocionante — diz Elaine, em referência às narrações feitas durante o desfile.
Desfile temático
Tua poesia vive, nosso poeta imortal. A história do Rio Grande tem Jayme Caetano Braun. As frases cantadas pelo grupo Alma Gaudéria marcaram o início do desfile temático às margens da Orla do Guaíba. Com o retorno dos carros alegóricos após 11 anos, a apresentação homenageou a história do pajador e a reconstrução do RS após a enchente.
Perto do meio-dia, a gestão de prendas e peões do RS, conduzindo as bandeiras, começou a desfilar pela avenida. Na sequência, o primeiro dos seis carros, batizado de Tronco Missioneiro, passou em frente ao palanque das autoridades. O momento foi celebrado pelo público, que aplaudia e fazia imagens do veículo.
O Tronco Missioneiro apresentou a obra de Braun. Em seguida, foi a vez do Obelisco, que remeteu às origens da família do poeta e celebrou o Bicentenário da Imigração Alemã. O carro Família passou pela avenida em seguida, retratando a vida pessoal do pajador, a partir da representação da casa onde nasceu.
Os veículos Bolicho e O Comunicador/O Político fecharam as homenagens ao poeta. O sexto e último carro, alusivo à reconstrução do Estado, tinha decorações em amarelo, verde e vermelho, além da representação de um cavalo e imagens de servidores que atuaram durante as enchentes.
De pé próximo ao gradil, Rodrigo de Oliveira Machado, 37 anos, segurava a filha de quatro anos nos ombros para que a menina pudesse enxergar bem os carros que passavam. A criança levava nas costas uma bandeira do RS, como se fosse uma capa. A mãe, Andressa Brito Lima, 33, fotografava a cena.
A família mora em Gravataí, na Região Metropolitana, e veio para Porto Alegre apenas para prestigiar o evento. É a primeira vez que Andressa e a filha acompanham o desfile — Rodrigo, no entanto, já viu outras vezes.
— Achei bem bacana. É a primeira vez que estou participando, gostei bastante. Viemos trazer a pequena também para conhecer, está lindo demais — ressaltou Andressa.
— Eu achei incrível, minha filha adorou, muito bacana. Cada carro traz um tema, ficou muito bonito este ano — acrescentou Rodrigo.
O final do evento foi marcado pelo desfile tradicional, que começou pouco antes das 13h. Cavalarianos dos Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) e piquetes participaram desse momento.