Os tradicionalistas envolvidos com a realização do Acampamento Farroupilha de Porto Alegre acompanham apreensivos os mais recentes episódios em relação ao Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, o Harmonia. Na segunda-feira (31), a Justiça notificou a GAM3 Parks, concessionária responsável pelas intervenções no local, para suspender imediatamente as obras que estão sendo feitas na área.
— Essa gente não pensa o estrago que é o efeito dominó na vida das pessoas e das famílias que compraram todos os seus materiais há um ano — afirma a presidente da Comissão Municipal dos Festejos Farroupilhas, Liliana Cardoso, após ser questionada se a suspensão das obras afetaria os 232 piquetes que começarão a ser montados a partir de 12 de agosto.
Por enquanto, o cronograma da prefeitura em relação ao Acampamento Farroupilha está mantido e sem alterações. Nesta terça-feira (1º), às 19h, os piqueteiros receberão seus alvarás.
O evento será realizado de 1º de setembro até 20 do mesmo mês, quando se celebra a data maior do Estado. A chegada da Chama Crioula ao Harmonia acontecerá em 7 de setembro.
— Os tradicionalistas estão muito aflitos e revoltados pela fogueira de vaidade de politicagem e de bandeiras — revela Liliana, que diz perceber avanços na drenagem do Harmonia na comparação com anos anteriores.
— A única coisa que vou dizer é que isso é muito triste, porque um lado diz que não é contrário ao acampamento, mas não pensaram no acampamento, que era um evento que vinha após. Que lutassem depois de setembro — acrescenta.
Na segunda-feira, a reportagem de GZH esteve no canteiro de obras antes de a concessionária ser notificada pela Justiça para suspender as intervenções. Montes de areia, material de construção, equipamentos, retroescavadeiras, caminhões e operários estavam por todos os lados.
Nesta terça, a GAM3 Parks se manifestou sobre a liminar judicial e a realização do Acampamento Farroupilha:
"A liminar imposta e a subsequente paralisação das obras levantam preocupações para a atual edição do evento, uma vez que as áreas de infraestrutura e drenagem, fundamentais para o acampamento dos piqueteiros durante o evento, serão afetadas", diz trecho da nota da empresa (leia na íntegra mais abaixo).
Coordenador de Música da prefeitura de Porto Alegre, o tradicionalista Elton Saldanha também demonstra preocupação com o cenário às vésperas do começo da montagem da estrutura dos piquetes.
— O cronograma estava sendo seguido dentro do que era esperado. O que se está buscando é uma drenagem, porque o parque sempre foi um banhado — cita.
Conforme Saldanha, o Harmonia precisa de melhorias para poder receber público de forma adequada.
— Não adianta a gente ter um parque que usamos 20 dias por ano e que é um banhado. Agora as pessoas estão preocupadas porque estão fazendo obras grandes, mas será uma obra para melhor — reflete o cantor e compositor.
O vice-presidente da Fundação Cultural Gaúcha do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), Paulo Matukait, diz que a manifestação da entidade será apenas por nota oficial (leia mais abaixo). Porém, explicou os motivos para essa decisão.
— É a forma que nós encontramos de contemplar o evento principalmente, o acampamento e os piquetes. Respeitando todos que estão na construção deste evento tradicionalista, que é o maior que nós temos — pondera Matukait.
Para o patrão do piquete Laços de Amizade, Milton da Silva Matos, a situação causa apreensão.
— Todo mundo tem que sentar na mesa e apertar a mão. O maior prejudicado com tudo isso é o RS — observa.
— Temos que acompanhar a evolução. Antes as pessoas iam de bota para o Harmonia, porque era uma lama só — conclui, dizendo que apenas uma minoria acha que a concessionária descumpriu o contrato.
A decisão pela suspensão imediata das obras partiu da 10ª Vara da Fazenda Pública. A polêmica envolve a extração de 103 árvores no local. Havia 1.253 exemplares antes do começo das intervenções da GAM3 Parks, que venceu a licitação para administrar conjuntamente o Harmonia e o trecho 1 da orla do Guaíba por 35 anos. A concessionária alega que das 103 árvores extraídas, 40 estavam em estado fitossanitário ruim e duas mortas.
GZH apurou que, até as 14h desta terça-feira, a Procuradoria-Geral do Município (PGM) não havia entrado com recurso para reverter a decisão judicial.
No ano passado, foram 230 piquetes no Acampamento Farroupilha, com 5 mil profissionais envolvidos, mais de cem apresentações culturais e 800 toneladas de churrasco consumidas pelos presentes.
Nota da GAM3 Parks
"A montagem do evento, prevista para iniciar no dia 12 de agosto com a construção dos piquetes pelos piqueteiros, enfrenta um entrave devido à paralisação das obras do Acampamento Farroupilha, que deveriam ter iniciado hoje (01/08).
A liminar imposta e a subsequente paralisação das obras levantam preocupações para a atual edição do evento, uma vez que as áreas de infraestrutura e drenagem, fundamentais para o acampamento dos piqueteiros durante o evento, serão afetadas.
Além disso, até o momento, as autoridades não especificaram o prazo exato da suspensão das obras, agravando a situação. Outro ponto preocupante é a falta de definição entre o que consiste a obra de revitalização do Parque Maurício Sirotsky Sobrinho e as obras de montagem do próprio Acampamento Farroupilha. Essa indefinição impossibilita a realização de qualquer atividade, deixando em aberto a viabilidade da realização do evento este ano.
O processo de melhoria até aqui realizado visou qualificar diversos setores do parque, atendendo a uma demanda constante dos piqueteiros que participam do evento. A iniciativa tinha como objetivo proporcionar um ambiente mais adequado e seguro durante o Acampamento Farroupilha, que reúne anualmente milhares de pessoas para celebrar as tradições gaúchas."
Nota do MTG
"O Movimento Tradicionalista Gaúcho do Rio Grande do Sul (MTG) não manifestará opinião sobre os acontecimentos que envolvem o Acampamento Farroupilha de Porto Alegre, no ano de 2023, por entender que o Parque Maurício Sirotsky Sobrinho (Estância da Harmonia), local da realização do evento, tem um gestor (GAM3), responsável contratual com a prefeitura, pela realização.
Como membro da Comissão Municipal, lamentamos profundamente todos os acontecimentos que envolvem um dos maiores eventos do nosso Estado. Entendemos que o acampamento, e os que realizaram a festividade desde 1987, não merecem passar por tal situação.
Trabalhamos em parceria com a comissão municipal por mais de 20 anos (1999/2022) para que o acampamento saísse de um simples aglomerado de lonas multicores, para os galpões que conhecemos hoje, desfiles tematizados, e mais de um milhão de visitantes por edição. Temos a plena certeza de que tudo vai se resolver da melhor forma, basta que as partes tenham respeito e bom diálogo, pois foi desta maneira que conduzimos as negociações sempre que defendemos os interesses da cultura, dos acampados e das instituições envolvidas." (Ilva Maria Borba Goulart - Presidente do MTG/RS e Paulo Matukait - Vice-presidente da FCG/MTG e Membro da Comissão Municipal)