Como forma de incentivar o estudo da história e da cultura do Rio Grande do Sul, a organização do Acampamento Farroupilha de Porto Alegre propôs a criação de projetos envolvendo os visitantes. De forma prática, eles entendem questões como a miscigenação que deu origem ao vivente destes pagos.
O tema escolhido para este ano foi Etnias do Gaúcho – Rio Grande, Terra de muitas Terras. A ideia era entender o papel do negro, do índio e de toda sorte de imigrantes que aportou no Estado nos últimos séculos, formando uma cultura rica em música, literatura, gastronomia, história, costumes e tradições.
— É a comprovação e reafirmação de um Estado, de uma identidade que mescla o açoriano, o índio, o negro, o alemão, o italiano, o português. Apresentações incríveis, pesquisas aprofundadas, um teor histórico e bibliográfico que nos emociona — enaltece a presidente da Comissão Municipal dos Festejos Farroupilhas de Porto Alegre, Liliana Cardoso, elogiando o comprometimento de todas as 235 entidades que participaram do Acampamento.
Os projetos ocorrem durante a Semana Farroupilha, nos galpões dos piquetes e CTGs montados no Parque Harmonia. São exposições, palestras, oficinas, almoços, jantares e shows temáticos que detalham a contribuição de cada etnia em hábitos que todo gaúcho conhece, mas não costuma parar para pensar sobre a origem. Pratos como o carreteiro, a cuca e a polenta, tão integrados ao dia a dia, passam a ser compreendidos sob uma nova perspectiva.
Figura emblemática na formação do gaúcho, o negro ajudou a erguer a economia do Estado com braço forte e serviço escravo. Quando se fala em Revolução Farroupilha, é comum (embora menos do que deveria) lembrar dos Lanceiros Negros, pelotão linha de frente durante o combate, embalado pela promessa de liberdade e patentes no Exército quando o sangue deixasse de ser derramado.
Protagonismo
Para lembrar que as contribuições foram muito além da lança, o piquete Pêlo Escuro, do Instituto Oliveira Silveira, promoveu uma exposição inspirada na obra do artista que dá nome à entidade. Poeta negro, natural de Rosário do Sul, ele fez de sua obra um grito de liberdade, evidenciando a história dos escravos e descendentes que e ajudaram a construir o Estado.
— O objetivo do piquete é dar visibilidade às culturas afro-gaúchas à luz da vida, da obra e da consciência do poeta, valorizando o diálogo entre os povos que compõem nossa história — explica a filha do poeta e presidente do Instituto, Naiara Oliveira Silveira.
Ela faz questão de explicar que o nome Pêlo Escuro foi pego emprestado de uma das principais obras do escritor, conservando a grafia da época em que foi lançado. O debate sobre o racismo permeia o projeto, ao mostrar a importância do negro nas charqueadas, no campo e em todas as demais atividades. Mas, como efeito, suscita também a reflexão sobre todo tipo de preconceito. Professora especializada na Língua Brasileira de Sinais (Libras) na Escola Municipal de Ensino Fundamental Bilíngue para Surdos Vitória, de Canoas, Naiara levou os alunos para conhecer o acervo:
— É um piquete que integra diversas pessoas: deficientes, negros, não negros, índios. Qualquer um chega e se sente à vontade, esse é o objetivo.