Uma casa de madeiras rústicas, com tablado de compensado e sem portas de entrada ou saída, foi erguida às margens do Guaíba. O imóvel é provisório e sedia o primeiro Acampamento Farroupilha do Lami, no extremo-sul da Capital. O espaço foi inaugurado na manhã desta terça-feira (7).
A iniciativa tem como premissa cavalgadas e confraternização ao ar livre - nem mesmo a instabilidade no clima espanta os cavalarianos, garante o comerciante Cristiano Silva, 47 anos, organizador dos festejos:
— Gaúcho não se entrega pra chuva.
O evento foi liberado pela prefeitura e tem uma espécie de alvará provisório expedido e assinado pelo Executivo.
O acampamento é limitado ao piquete único, nomeado “Piquete Quebra Galho”, localizado na Avenida Beira-Rio, poucos metros distante das águas do lago. Circundado por uma série de árvores cultivadas pela via ribeirinha, um gramado poderá ser ocupado pelos moradores durante as duas semanas de festejos, sem necessidade de permissão.
— Só chegar e respeitar — repete o comerciante.
O idealizador defende que a manifestação cultural é uma demanda da comunidade, distante mais de 20 quilômetros do Centro.
— Tem uma população carente aqui, que não consegue deslocar até o Centro. Pessoas que gostam de ver os cavalos na rua e manifestações da nossa cultura aqui — detalha Silva.
Silvia Stefani, 47 anos, segue a mesma linha do marido, de levar entretenimento à quem vive em condições desiguais. Além dos alimentos distribuídos no bairro, ela organiza o Dia das Crianças solidário, e recebe doações para entregar no mês que vem. O casa pode ser contatado no telefone (51) 9-9992-7574.
Dentro do rancho, estão instalados mesas e bancos produzidos a partir de largos troncos. A churrasqueira e o fogão campeiro têm um componente ainda mais “chucro”, como define o artesão Zenildo Rodrigues da Rosa, 56 anos, conhecido na região como Toco.
— Os espetos a gente fez de galhos de camboim e vassoura vermelha. Nada mais tradicional que isso, pra manter a história dos primeiros que chegaram ao Rio Grande — compara.
Toco também é músico e dono de um item de valor incomparável: a gaita do seu bisavô, trazida da Alemanha no século XIX. Forjada em madeira e aço, o objeto segue animando bailes especiais, como o do primeiro dia de acampamento.
— Essas eram feitas pra durar, e está há mais de 100 anos com a nossa família —complementa.
Na lateral do instrumento, a inscrição Hohner foi forjada na época da fabricação, garante o atual proprietário. A inscrição é pouco visível, indício do tempo em que foi talhada.
O encerramento dos festejos no Lami ocorrerá em 20 de setembro, com uma cavalgada que deve reunir 40 cavalarianos, estimam os idealizadores.