O delegado Marcos Vinicius Veloso, da Delegacia de Polícia de Torres, afirmou neste sábado (28) que o caso do bolo supostamente envenenado, consumido por seis pessoas da mesma família no dia 23 de dezembro, não é mais investigado como uma possível intoxicação alimentar, e sim como homicídio. Foi constatada a presença de arsênio no sangue de três das vítimas: duas delas estão vivas e uma faleceu. O caso aconteceu em Torres, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul.
O delegado responsável pelo inquérito diz que as provas colhidas até agora indicam um homicídio culposo, quando não há intenção de matar. A outra linha de investigação, considerada menos provável neste instante, é a dolosa, quando existe a intenção de cometer o crime.
Três pessoas morreram e duas seguem internadas. A sexta vítima, que teria ingerido menor quantidade, foi liberada após atendimento hospitalar.
— Com as provas que coletamos, não sabemos se foi envenenamento culposo ou doloso. Até o momento, não consigo encontrar uma conduta dolosa. Porém, outras provas que vierem podem contrariar o que penso agora. É um inquérito que precisa de muita cautela — afirmou Veloso.
O delegado tomou mais de dez depoimentos de pessoas que têm relação com a família. O apanhado dessas oitivas é um dos elementos que leva à percepção atual, que ainda pode mudar, de conduta culposa.
— Estamos com outras frentes de investigação enquanto esperamos respostas periciais e algumas diligências que encaminhamos e que serão mantidas em sigilo. Atuamos principalmente com as oitivas de todas as pessoas que tinham contato para entender essa vida familiar. De forma sucinta, os depoimentos são de que a família vivia em harmonia. Isso leva a crer, até o momento, que não teria a conduta dolosa — comenta Veloso.
Na sexta-feira (27), a Polícia Civil cumpriu seis mandados de busca e apreensão em residências de pessoas relacionadas aos fatos. Não foram informados os municípios nem os proprietários das habitações que foram alvo.
O que se tornou público foi a localização de um frasco contendo um líquido esbranquiçado na casa de Zeli Teresinha Silva dos Anjos, de 61 anos, que preparou o bolo e está internada. O material foi enviado para análise do Instituto-Geral de Perícias (IGP). A intenção é descobrir se ele pode ser um elemento químico que ajude a esclarecer o possível envenenamento da iguaria.
Nas demais residências, não foi encontrado nada que, em primeira análise, pareça ser relevante, segundo o delegado. Foram apreendidas muitas substâncias e ingredientes para análise. A apuração busca identificar a eventual presença de elemento nocivo nos itens.
O que restou do bolo após o consumo foi preservado e apreendido pela Polícia Civil, que enviou para perícia do IGP e aguarda o resultado.
O Centro de Informações Toxicológicas detectou a presença de arsênio no sangue de três pessoas que consumiram o doce. O arsênio é um elemento químico usado para produzir o arsênico, substância presente em conservantes de couro e madeira, além de inseticidas. O agente nocivo à saúde humana foi identificado na corrente sanguínea de Zeli e de um menino de 10 anos que é sobrinho-neto dela. Ambos estão internados no Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, em Torres. As duas vítimas estão sob monitoramento da equipe da unidade de terapia intensiva (UTI) e encontram-se clinicamente estáveis, conforme boletim médico da manhã deste sábado (28).
O elemento químico também foi coletado em Neuza Denize Silva dos Anjos, antes de ela falecer. Ela tinha 65 anos e era irmã de Zeli. Neuza era a dona do apartamento onde aconteceu a confraternização, em Torres.
As outras duas vítimas fatais foram Maida Berenice Flores da Silva, de 58 anos, e Tatiana Denize Silva dos Anjos, de 43 anos. Maida, irmã de Zeli e Neuza, teria auxiliado na confecção do bolo.
Laudos do IGP ainda devem ser emitidos em relação às vítimas.