Treze pessoas vivem há um ano em abrigos improvisados na cidade de Encantando, no Vale do Taquari. Atingidas pela enchente que devastou a região em setembro de 2023, elas aguardam apoio do poder público para uma solução de moradia definitiva.
Estes moradores passaram por mais de um abrigo da cidade desde então, e hoje estão no Parque João Batista Marchese. O local, no bairro Lambari, também acolhe afetados pela tragédia de maio.
No total, Encantado ainda tem 253 desabrigados em cinco espaços. Os dados são atualizados pela Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social (Sedes) junto ao município. O número coloca o município do Vale do Taquari como a terceira cidade com maior número de desabrigados, atrás somente de Canoas, na Região Metropolitana, e Porto Alegre.
Fabiana de Paula, 37 anos, mãe de duas crianças autistas, reside no pavilhão 1 do Parque João Batista Marchese desde setembro de 2023. Por um período de três meses, precisou ser encaminhada para outro abrigo, até retornar, em maio, junto do marido e dos filhos. A casa em que vivia, no bairro Navegantes, foi destruída pela chuva.
— Eu saí daqui e fui para um segundo abrigo. Nunca retornei para casa. A vida mudou bastante nesse um ano. É outra experiência (morar em um abrigo) e não é fácil lutar por uma coisa que merecemos, que é a casa. É muito difícil viver assim — lamenta.
Espera por entrega de casas
Sabrina Rodrigues, 18, teve o filho, Valentim, dentro de um dos abrigos, durante a enchente de maio. A jovem é uma das que vive nos espaços ofertados pelo município há um ano, desde que precisou deixar a casa em que morava, às pressas, em setembro do ano passado, por conta do nível da água.
Ela tem esperança de ser uma das selecionadas para as residências definitivas que serão oferecidas pelo governo.
— É difícil mesmo criar o nenê aqui no abrigo. Eu queria ter uma casa para ter conforto para mim, para o meu filho e os meus pais, que moram comigo aqui no pavilhão. Eu ganhei ele em um abrigo e oito dias depois viemos para esse. Perdi a minha casa com a enchente e nunca mais consegui voltar — conta.
Em um ano, a região foi afetada ainda por outras enchentes e nenhuma residência definitiva foi entregue aos atingidos. Segundo a prefeitura, 400 famílias receberam Aluguel Social na cidade.
Trinta moradias provisórias foram instaladas em agosto e há a expectativa de que mais 50 sejam doadas pelo governo do Estado.
A promessa é de que serão entregues 579 residências definitivas pelos governos federal e estadual, além do setor privado.
Cento e oitenta serão doadas pelo governo federal, por meio do programa Minha Casa, Minha Vida Calamidade (MCMVC). Elas ficarão em áreas elevadas nos bairros Navegantes e São José.
Outras 357 casas foram aprovadas em um programa da Defesa Civil nacional e aguardam um parecer do Ministério das Cidades (MC) para início das obras.
Em entrevista ao Gaúcha Atualidade nesta quarta-feira (4), o secretário Estadual de Habitação, Carlos Gomes, disse que 35 casas definitivas serão entregues em Encantado até fevereiro.
Perdas humanas e materiais
Na indústria e no comércio, de acordo com a Associação Comercial e Industrial de Encantado (ACIE), somente no município, o prejuízo causado pela enchente de setembro ultrapassou os R$ 300 milhões.
Aquele evento extremo afetou ao menos 7,6 mil pessoas no município. Duas mortes foram registradas.
A cidade voltaria a ser atingida ainda por outras enchentes depois, como a de maio de 2024, a pior catástrofe climática da história do Rio Grande do Sul, que também causou uma morte em Encantado e, segundo o balanço mais recente da Defesa Civil estadual, de 20 de agosto, deixa ainda dois desaparecidos.
As marcas destas tragédias ainda podem ser vistas no município, com escombros onde antes havia casas e árvores derrubadas.