Buscar soluções inovadoras, ágeis e que combinem um maior apoio governamental com a força do associativismo privado é um dos caminhos apontados por representantes de entidades empresariais gaúchas para potencializar a reconstrução do Rio Grande do Sul após a tragédia provocada pela enchente de maio de 2024.
Estratégias de recuperação da indústria e do comércio, duramente afetados pela catástrofe, foram apresentadas na tarde desta quinta-feira (22), durante mais uma edição da série de encontros do Painel RBS voltada a discutir formas de reerguer o Estado. Para os participantes do evento, a destruição causada por sucessivas cheias desde o ano passado deve servir como ponto de virada para refazer o que foi perdido sob um padrão superior de resiliência — incluindo itens fundamentais de infraestrutura e logística como estradas, pontes e aeroportos.
A iniciativa, conectada ao movimento “Pra cima, Rio Grande”, contou com transmissão ao vivo pelo canal de YouTube de GZH e reuniu três painelistas: Vilson Noer, presidente da Federação das Associações Gaúchas do Varejo (FAGV); Paulo Herrmann, recentemente empossado como CEO do Sistema Fiergs/Ciergs; e Rafael Goelzer, vice-presidente de integração da Federasul. O encontro, mediado pela comunicadora da RBS Giane Guerra, teve ainda participações em vídeo de representantes de diferentes segmentos dos setores comerciais e industriais.
O trio de painelistas enfatizou a necessidade de superar dificuldades de acesso a recursos federais para deslanchar o processo de retomada socioeconômica.
— A promessa que houve no início, quando estava todo mundo comovido e disse que não haveria falta de recursos, não estamos vendo na prática — afirmou Goelzer.
O vice-presidente da Federasul sustenta que os valores de financiamento ainda são insuficientes e não contemplam negócios que foram afetados mas ficam fora da mancha de inundação (locais efetivamente alcançados pela água). Goelzer cita como exemplo empresas que dependem do aeroporto Salgado Filho, fechado desde maio, mas não foram alagadas.
O caminho da recuperação econômica também exige, na avaliação dos empresários, que o Rio Grande do Sul se reconstrua de forma mais resistente ao novo cenário climático de fenômenos mais intensos e frequentes. Para Herrmann, um dos gargalos que precisa ser resolvido é justamente a dependência excessiva de apenas um aeroporto:
— Temos a oportunidade de refazer o nosso Estado de uma maneira mais eficiente estrategicamente. Todos dependemos de um aeroporto, o que se mostrou um problema estratégico. Então, temos uma oportunidade. Temos um aeroporto grande em Pelotas que pode trabalhar mais, um em Vacaria que está às moscas, bom para cargas, um em Canela que pode ser ativado para a Serra. Gosto de tomar o problema como base para uma solução.
Os painelistas entendem que o associativismo é uma das formas de compensar as deficiências do setor público na recomposição da infraestrutura geral do Estado — passo considerado fundamental para reerguer a indústria e o comércio. Um exemplo citado por Goelzer é uma iniciativa do Instituto Ling, do Instituto Cultural Floresta e da Federasul chamada Reconstrói RS, que garante 50% do valor para projetos de reconstrução e conta com doações para viabilizar o restante. Ao facilitar acesso a recursos e reduzir burocracia em comparação à esfera estatal, esse tipo de ação já permitiu reerguer 10 pontes apenas no Vale do Taquari.
Goelzer revelou que a inspiração do projeto veio da comunidade de Nova Roma do Sul, que se mobilizou para refazer uma de suas pontes por conta própria:
— Conseguiram reconstruir essa ponte em 130 dias através de força de vontade e doação da comunidade.
Vilson Noer destacou a importância de resgatar o centro de Porto Alegre — um dos grandes polos comerciais do Estado — por meio de iniciativas que também contemplem os setores privado e público.
— O Centro tem uma importância fundamental nesse processo de recuperação. Empresas ou entidades poderiam apadrinhar um Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs), uma Praça da Alfândega — exemplificou Noer, destacando ainda a importância de atrair mais moradores a regiões como essa.
O presidente da FAGV garantiu ainda que, apesar dos desafios, o sentimento é de confiança entre o empresariado gaúcho:
— Nosso desafio para o segundo semestre é grande, mas somos empresários, somos do varejo, somos sempre otimistas. Não adianta querer ser empreendedor se você não tiver, como ponto número um, otimismo, além de visão e direção.
A edição sobre a retomada da indústria e do comércio foi a quinta da série especial que já abordou os temas da retomada do turismo, da recuperação do Vale do Taquari, da reconstrução criativa e dos desafios do agronegócio.
Relembre episódios anteriores:
- A retomada do turismo no Rio Grande do Sul
- A retomada do Vale do Taquari
- Os caminhos para a reconstrução criativa do RS
- Superação e desafios para retomada no agronegócio