Quase três meses após a enchente que atingiu o Rio Grande do Sul, 8.390 animais ainda aguardam por adoção em 287 abrigos abertos no Estado. O levantamento faz parte do painel Arcanimal, plataforma atualizada pelo governo gaúcho em parceria com o Grupo de Resposta a Animais em Desastres (Grad).
Há cerca de duas semanas, o número de animais nesses espaços passava dos 18 mil. Porém, o número de abrigos em funcionamento também caiu no período. Os espaços abrigam principalmente cães — são, pelo menos, 7,2 mil em todo Estado —, mas também há gatos, aves e até cavalos e suínos.
Somente em Porto Alegre, são mais de 3 mil animais. A Capital é seguida pelos municípios de Canoas, São Leopoldo e Alvorada na lista de cidades com o maior número de pets em abrigos.
Entidades ligadas à causa animal têm demonstrado preocupação com o número ainda elevado de animais e com as condições oferecidas aos bichos nos locais de acolhimento. Outro temor é o bem-estar de voluntários, que em muitos casos atuam há quase 90 dias nos abrigos.
Laura Pretto, 28 anos, é uma das coordenadoras do abrigo no Centro Vida, na zona norte de Porto Alegre. Ela relata que há 20 voluntários permanentes no local, o que representa uma redução expressiva nos últimos dias, dificultando a continuidade dos cuidados aos pets.
No Centro Vida, são 200 cães e 67 gatos à espera de um novo lar. A expectativa é que, pelo menos, mais 60 bichos cheguem a partir da próxima semana. Isto porque, quando outros abrigos são fechados, os animais são direcionados a este local. Se isso ocorrer, porém, há o temor de que faltem recursos para o acolhimento.
— Estamos esgotados e os recursos estão acabando. Nós dependemos de doações e diminuiu muito, seja de empresas ou voluntários. A gente até propôs alternativas à prefeitura de Porto Alegre, mas o que eles podem dispor são as veterinárias, que são ótimas, mas precisamos de muito mais — pontua Laura.
Para ajudar os cães e gatos abrigados no Centro Vida, uma festa julina e uma feira de adoção serão realizadas no local neste sábado (27), a partir das 14h. É uma oportunidade para adotar cães mais idosos, como Zé Antônio e Schwarzenegger, filhotes de gatos, como Jade e Luke, ou os cachorros Bolo Fofo e Fera (veja as fotos abaixo).
— Grande parte dos cachorros que ficaram são os mais velhinhos e a maioria é extremamente carinhosa. O Schuaz (referência ao Schwarzenegger) está enfrentando um tumor maligno e está sendo tratado, mas precisa de um lar. No pico da tragédia, tivemos mais de 600 cachorros aqui. Diminuiu bastante, mas todos merecem uma casa e um bom lugar — comenta a coordenadora do abrigo.
Uma das ações adotadas pelo governo gaúcho para diminuir o número de animais em abrigos é o envio de alguns para adoção em outros Estados. Na última semana, dezenas de cães foram transportados para o Rio de Janeiro e todos foram adotados. Outros 35 embarcaram em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) nesta sexta-feira (26) em direção ao Estado fluminense. A Secretaria Estadual do Meio Ambiente informa que foram 400 cachorros levados a outros Estados.
A pasta diz que está realizando reuniões com entidades para apresentar uma nova proposta de incentivo à adoção responsável, bem como de apoio aos municípios.
A procuradora de Justiça Ana Marchesan, coordenadora do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente do Ministério Público do Rio Grande do Sul, diz que há um consenso entre as autoridades de que nem todos os animais resgatados após a enchente encontrarão novos tutores, principalmente pets idosos, com problemas de saúde e mais bravos.
— Nós entendemos que os voluntários estão exauridos e que vai ficar um passivo de animais após esse período. Em algum lugar eles vão ter que ficar. Tanto o Estado quanto o município terão que arcar com os custos. Tem conversas em andamento — revela Ana.