Um mês após o começo da enchente em Alvorada, na Região Metropolitana, partes do bairro Americana, o mais afetado do município, ainda estão alagadas. A reportagem de GZH retornou ao local neste domingo (2) e circulou de barco em pontos nos quais a água segue acima de um metro de altura, em ruas como André da Rocha, Marquês do Pombal e Doze de Maio, além da Avenida Beira-Rio e da Rua Americana.
Partes das áreas atingidas é possível acessar caminhando, devido ao recuo da água. São mais de cem casas que ainda estão com alagamento dentro dos pátios. A prefeitura não informou o número de pessoas afetadas, mas alega que são centenas. No ápice da enchente, foram 10 mil atingidos no município. A maioria reside no bairro Americana.
Atualmente, 165 pessoas permanecem em seis abrigos no município. Na ida ao bairro na tarde deste domingo, GZH não encontrou servidores da prefeitura atuando ou maquinário trabalhando no recolhimento de materiais descartados pelos moradores atingidos. Com a falta de auxílio, moradores como a aposentada Neuza Terezinha de Souza, 73 anos, que reside na Rua Marquês do Pombal, contam com a ajuda de familiares para fazer a limpeza das casas.
Por conta da rápida elevação do nível da água, Neuza teve que ser resgatada no começo da enchente. Trinta e um dias depois, ela voltou ao local, acompanhada dos filhos e netos, para iniciar a limpeza da casa.
— Eu não tive coragem de sair e as pessoas vieram nos resgatar. Em 2015, quando houve a enchente que era a mais grave antes dessa, a água não chegou nesse nível aqui em casa. Dessa vez, só não perdi mais por conta do fundo alto no terreno. Minha TV e o rádio estragaram, agora nem posso acompanhar vocês mais — lamentou. Durante a enchente, 40% da cidade foi afetada.
Marisa Fernandes Alves de Oliveira, 52 anos, é autônoma e perdeu tudo durante a cheia. Também moradora da Rua Marquês do Pombal, ela, o marido e as filhas só conseguiram retirar lembranças, documentos e o cachorro de casa. Neste domingo, retornaram ao local pela segunda vez para seguir com a limpeza. Um reinício doloroso, segundo ela, em meio ao cenário encontrado na residência, coberta pelo lodo e com marcas deixadas pela água, que atingiu um metro e 65 centímetros dentro da propriedade.
Comunidade espera por dique do Arroio Feijó
— O primeiro impacto é o desespero, a tristeza e a dor. O alento é ter saúde nessas horas. Esse sentimento de ser deixado de lado pela prefeitura e o governo só mostra que não estamos sendo respeitados. Encontramos um cenário de guerra dentro de casa. As pessoas passam por isso todo ano aqui no bairro Americana, mas esse ano só agravou. É preciso agilidade nas soluções, principalmente com o dique — disse a moradora.
Segundo o secretário de Serviços e Obras e Viação de Alvorada (Smov), Rogério Negreiros, o dique de Alvorada é a única obra de contenção contra as cheias da Região Metropolitana que não foi concluída. Em 2012 um termo de compromisso para executar a obra foi assinado, mas ela nunca saiu do papel.
Segundo a Metroplan, estudos e anteprojeto de engenharia, além de relatórios de impacto ambiental já foram concluídos. Estas são as primeiras etapas do projeto. O dique do Arroio Feijó é o primeiro caso de gestão partilhada metropolitana, com responsabilidade atribuída aos municípios de Alvorada, Viamão e, Porto Alegre.
A obra possui licença da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), mas nunca foi executada. Agora, o município aguarda o envio de recursos por parte do governo federal para iniciar a construção da estrutura de proteção contra as cheias. O orçamento é estimado em, pelo menos, R$ 2 bilhões.
A área escolhida fica no bairro Americana e compreende o arroio Feijó, além da várzea do Rio Gravataí e bacias afluentes.