Na madrugada de sexta (3) para sábado (4), as águas do Guaíba invadiram as regiões centrais do município de Eldorado do Sul. Na manhã de sábado, ilhada no bairro Centro Novo, no segundo andar de um sobrado, Victoria Beck, tentava contato com amigos passando a localização do telhado da residência onde estava na Rua Bélgica com o namorado, os pais e a irmã. Às 8h, os canais da Defesa Civil no município já não davam retorno. Assim como ela, estimativas apontam que estavam milhares de pessoas, 300 em uma escola, outras 100 em uma empresa, na cidade que restou 100% tomada pelas águas.
A poucas quadras do local, o prefeito da cidade, Ernani Gonçalves, cuja própria casa e a empresa – uma transportadora que teve perda de todos os caminhões, haviam sido tomadas pela enchente até o teto, montava um centro de operações no terraço da prefeitura. Ainda na manhã de sábado, o município estava sem acesso via Porto Alegre ou Guaíba, de onde dois caminhões foram disponibilizados, mas tombaram na BR-116 antes de conseguirem chegar ao destino.
Na tarde de sábado, a cidade estava 100% isolada, sem energia elétrica e água potável. Às 17h do domingo, a Corsan informou que em razão do rompimento da adutora não havia condições de pressurização e o abastecimento só será possível quando o nível das águas retrocederem, até lá a distribuição é feita com caminhão pipa nos locais que receberam os desabrigados.
A Equatorial não conseguiu retornar à solicitação de informações da reportagem. Com base no último boletim da empresa, são 845 mil imóveis desabastecidos em 53 municípios e a situação mais grave é a de Eldorado do Sul.
Em entrevista à Rádio Gaúcha na manhã de domingo, o prefeito Ernani Gonçalves, que só conseguiu comunicação em razão de um gerador instalado no prédio, estimou entre 20 mil e 30 mil o número de desabrigados na cidade que conta com 42 mil habitantes. Parte das pessoas necessitava ser transferida para Porto Alegre, onde foram disponibilizadas algumas acomodações, mas a operação dependia de gasolina pra os barcos, parados por falta de combustível ou de resgate aéreo com helicópteros.
– Acabou o nosso município. Estamos isolados do resto do planeta – afirmou. De acordo com Gonçalves será necessária muita ajuda federal e estadual para a reconstrução.
A defesa civil, até o fechamento desta edição, não havia informado quantas transferências foram efetivadas. Segundo o prefeito, ainda havia um grupo de 3 mil pessoas ao relento, na BR-116, sem abrigo, comida e alimentos. Houve registros de saques em supermercados do Centro e apenas uma das farmácias em atividade no local ainda possuía medicamentos em condições de uso.
Uma empresa de Guaíba foi contratada para produzir marmitas, mas até a tarde deste domingo, havia dificuldades para entrega em razão da falta de acesso, inclusive por barco, ao município.
– Para acessar só por helicóptero E a gente está numa situação de extrema calamidade aqui, temos três mil pessoas em cima da faixa, desabrigadas, que passaram a noite toda (de sábado) toda na chuva – reforçou ao lembrar que um socorro do Exército de Rio Grande foi prometido, mas não havia mais obtido comunicação com a equipe.