A prefeitura de Rio Grande, baseada em estudos de especialistas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), estima que até 31,8 mil habitantes do município serão atingidos na primeira rodada de subida severa da Lagoa dos Patos. O fenômeno é consequência da crise climática que assola o Rio Grande do Sul.
Esse cenário, considerado o mais crítico dentre os mapeados, deve se concretizar nesta quinta-feira (9), estima o prefeito Fábio Branco.
Isso significa que, num primeiro momento, 16,5% dos 191,9 mil moradores de Rio Grande serão atingidos. Isso poderá melhorar ou piorar na sequência dos dias, dependendo de fatores como a direção do vento. Branco estima que, na projeção mais drástica, até 30% da população poderá ser atingida. O vento sul é má notícia porque ele represa a água da Lagoa dos Patos e a empurra para dentro da cidade. Já o nordeste é positivo nas atuais circunstâncias porque facilita o escoamento da água para o Oceano Atlântico. Na tarde desta quarta-feira (8), passou a soprar o vento sul, um adicional de preocupação.
A Universidade Federal do Rio Grande (Furg), renomada pelos estudos marítimos, divulgou estudo em que mapeou cinco cotas de água que irão avançar sobre a cidade. As áreas menos afetadas poderão ter lâminas de zero a 25 centímetros. As mais prejudicadas terão alagamento entre 1 metro e 1,25 metro.
As cotas projetadas pela Furg consideram até o limite da maior enchente da história de Rio Grande, de 1941, quando a Lagoa dos Patos subiu a 1,25 metro além do nível normal.
Contudo, a prefeitura, auxiliada por análises técnicas, estima que a cheia de 2024 será a recordista, com crescimento de até 45 centímetros sobre a marca de 1941. Isso indica que a Lagoa dos Patos poderá chegar a 1,70 metro além do habitual.
— Se o cenário for confirmado, vamos ter a pior situação da história. Já passamos por várias enchentes, pela característica de Rio Grande de receber essa água toda. O agravante que me preocupa é o índice pluviométrico da região como um todo — diz Branco.
Ele menciona chuvas fortes que caíram recentemente em cidades como Uruguaiana, Alegrete e Bagé, que acabam exercendo alguma influência sobre Rio Grande. Além disso, a Lagoa dos Patos está recebendo grande volume de água do lago Guaíba, que banha Porto Alegre.
Se o cenário for confirmado, vamos ter a pior situação da história.
FÁBIO BRANCO
Prefeito de Rio Grande
Branco diz que muitas pessoas poderão ir para as casas de parentes e, em diversas zonas, a cota de água será baixa. Ainda assim, ele avalia que a maior preocupação do momento é com o acolhimento de quem ficar desabrigado. Até a manhã desta quarta-feira, a prefeitura tinha seis abrigos públicos montados. A Defesa Civil estimou que eles têm capacidade para cerca de 600 pessoas.
— Temos condições de ampliar muito a oferta de abrigos. A nossa água não subirá tão rápido nem tão alto. Temos apoio do Exército, da Marinha, do Corpo de Bombeiros, da Brigada Militar e da Polícia Civil. Estamos tendo tempo de conhecer (a situação) e agir — avalia o prefeito.
Refinaria paralisa atividades por segurança
Rio Grande conta com a operação de uma refinaria que recebe petróleo cru e o processa para o fornecimento de gasolina e óleo diesel. Trata-se da Refinaria Riograndense, cuja propriedade é dividida em partes iguais entre Petrobras, Braskem e Ultra. A companhia comunicou nesta quarta-feira a paralisação das atividades por prevenção e segurança, mas assegurou que o terminal de carregamento continuará operando e atendendo as distribuidoras de combustíveis.
O prefeito Branco afirmou que precauções foram tomadas.
— Conversei duas vezes com eles para me certificar dessa situação do abastecimento. Tem estoque de gasolina e diesel de refinaria para um período de sete a 10 dias. Não é para ter problema de desabastecimento — avalia o prefeito.
Ele ressalva que a área de onde saem os caminhões da companhia fica em zona de risco, o que poderá causar contratempos, a depender da magnitude da enchente.
A Refinaria Riograndense se manifestou em nota. Confira a íntegra:
"Informamos que, diante do cenário que o Estado do Rio Grande do Sul está enfrentando e com a previsão de elevação das águas na cidade do Rio Grande, a Refinaria Riograndense, que já estava com algumas unidades em parada de manutenção, vai proceder progressivamente a parada das demais unidades. Durante as manobras de parada, poderão ser percebidas alterações na chama da tocha, ruído e odor.
A decisão de parada se dá de forma preventiva e tem por objetivo garantir a segurança dos nossos colaboradores e a preservação da integridade das instalações. Nosso terminal de carregamento continuará operando normalmente e atendendo as distribuidoras de combustíveis, responsáveis por abastecer os postos e seus consumidores."
Projeção da prefeitura de Rio Grande de pessoas atingidas pela enchente a partir de estudos da UFRGS
- Distrito Ilhas - 5 mil pessoas
- Zona Central - 1,5 mil pessoas
- Zona Avenida Itália - 2,5 mil pessoas
- Zona Portuária Industrial - 5 mil pessoas
- Zona Porto Novo - 900 pessoas
- Zona da Lagoa - 10 mil pessoas
- Zona Oeste Orla - 6,9 mil pessoas
- Total - 31,8 mil pessoas