Após seis meses da tragédia que matou 53 pessoas no Rio Grande do Sul, cinco pessoas seguem desaparecidas no Vale do Taquari, região mais afetada pelas enchentes de setembro de 2023. As buscas, no entanto, foram suspensas pelo Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul (CBM-RS) em meados de janeiro, quando foram localizados alguns restos mortais.
Quatro cadáveres e um crânio foram encaminhados pela corporação ao Instituto-Geral de Perícias (IGP-RS), mas apenas duas ossadas continuam sob análise em Lajeado. Segundo os peritos, os demais materiais biológicos não corresponderam aos das vítimas das cheias.
O capitão Thalys Rian Stobbe, comandante do Corpo de Bombeiros de Lajeado, chama a atenção para o fato de que os trabalhos não foram encerrados. A suspensão, portanto, é temporária.
— Precisamos que o IGP confirme a identidade delas ou se alguma não faz parte da lista de desaparecidos, se são cadáveres de um cemitério, por exemplo. Porque aí conseguiremos reorientar nossas buscas com foco em quem ainda não encontramos — explicou.
De acordo com o IGP-RS, o processo de identificação das vítimas a partir do material genético coletado das duas ossadas ainda não teve desfecho positivo. A dificuldade se dá pelo estado avançado de decomposição dos cadáveres ou por se tratarem apenas de ossos.
— Suspeitamos que essas ossadas sejam da enchente por características fenotípicas, como idade, sexo, raça, que nos permitem inferir que, talvez, sejam vítimas das cheias. Eu não posso afirmar com toda certeza. Os demais, que eventualmente acabaram chegando em Porto Alegre e outros municípios, a princípio já foram descartados de serem vítimas dessa cheia — comenta o diretor-geral adjunto do órgão, Maiquel Luis Santos.
Hoje, cinco vítimas da tragédia ocorrida no início de setembro do ano passado constam como desaparecidas:
- Alexandre Eduardo Macedo de Assis, 48 anos, de Arroio do Meio
- Beatriz Maria Pietta, 72 anos, de Muçum
- Carlos André Pereira, idade não informada, de Lajeado
- Deiser Cristiane Vidal, 32 anos, de Roca Sales
- Deoclydes José Zilio, 94 anos, de Muçum
Em entrevista a GZH, o diretor-adjunto do IGP-RS foi questionado a respeito da existência de um prazo para conclusão dessas análises, tendo em vista a complexidade envolvendo o estado em que elas foram encontradas.
— A gente vai esgotar todas as técnicas possíveis até chegarmos à conclusão de que não vai mais ser possível. Temos outras técnicas e vamos continuar insistindo. Assim que a gente tiver o resultado, vamos poder confrontar com o DNA dos familiares para dizer se é ou não de determinada pessoa.
Familiar desconhecia suspensão das buscas
Já faz seis meses que o agricultor Raul Zilio vive a angústia de ter o próprio pai, Deoclydes, entre os desaparecidos da enchente. Após todo esse tempo, o morador de Muçum admite que já não tem muita esperança de reencontrá-lo com vida.
Perguntado sobre a interrupção das buscas, Raul respondeu que não tinha conhecimento.
— Na verdade, o que a gente sabia é que ainda estavam procurando. Ninguém procurou a gente pra dizer que as buscas estavam suspensas. Até agora não sabíamos disso.
O agricultor comentou, em entrevista ao programa Gaúcha +, na Rádio Gaúcha, que logo após o desaparecimento foram realizadas as coletas de DNA da família. O material tem sido usado na comparação com as amostras dos restos mortais, em busca da compatibilidade genética.
A equipe de reportagem de GZH acionou o CBM-RS em busca de mais detalhes sobre o protocolo relacionado às buscas de pessoas desaparecidas. Como resposta, o departamento de comunicação dos bombeiros respondeu:
O que baseiam as nossas buscas são: se usamos todas as técnicas necessárias, todos os equipamentos e meios disponíveis, e se toda a área já foi coberta! E se não há novas informações, as buscas podem ser suspensas até surgirem novas informações.