O número de pessoas fora de casa nesta segunda-feira (20) em Cruzeiro do Sul, no Vale do Taquari, já é de quase 3 mil segundo a prefeitura. A região central da cidade é a mais afetada pela segunda inundação em três meses.
De acordo com o município, são 2.732 moradores nas casas de familiares e amigos. Outros 257 estão em abrigos públicos, como o ginásio municipal.
Mas o coordenador de Habitação, Rodrigo Marques Borges, explica que a população afetada é bem maior. Centenas de pessoas estão em pontos inacessíveis de Cruzeiro do Sul.
O Exército disponibilizou um caminhão para a entrega de ajuda humanitária. No entanto, os soldados não conseguiram acessar a região de São Miguel, na zona rural, em razão do lodo e da água acumulada na RS-130.
— Deve ter umas cem famílias, de 400 a 500 pessoas. Estamos esperando uma posição do Corpo de Bombeiros, através da Defesa Civil do Estado, para ver se a gente consegue uma aeronave pra dar esse suporte a essas famílias — relata o coordenador de Habitação.
Mobilização
Esta segunda-feira (20) foi marcada por sol e tempo firme no Vale do Taquari, contribuindo com o processo de limpeza da parte atingida pela enchente. Nas paredes de residências e comércio, a marca deixada pela lama tornava possível identificar a altura alcançada.
No Centro, um campo de futebol localizado abaixo do nível da rua permaneceu com água represada, apenas com as goleiras à mostra. A poucos metros dali, fica a loja da Marinez Alves da Silva, que, ao contrário do que aconteceu em setembro, conseguiu salvar boa parte dos produtos.
— Eram umas três horas da manhã e fomos avisados de que a água poderia atingir a loja. Viemos pra cá, colocamos as coisas em caminhões — comenta.
Segundo a empresária, a sensação de estar vivendo mais uma inundação em tão pouco tempo é de impotência. Ela não descarta mudar de endereço por causa do risco de novas enchentes.
— Temos que pensar urgentemente. A gente vai tentar fazer prateleiras mais altas, de sobreaviso, ou até mesmo procurar aqui no município outro lugar para o negócio. Precisamos de um espaço de 600 a 700 metros quadrados porque é muita coisa que a gente tem — disse.
Morando à beira do Rio Taquari
Localizada a cerca de 400 metros do rio, a casa da dona Irena, 75 anos, foi uma das atingidas, mas quando a água chegou ela já estava em outra residência com a família.
— Uns dois meses atrás veio aquela (enchente) grande, né? Derrubou a parede da minha casa, eu arrumei. Fazia 14 dias que eu tinha tudo arrumado dentro de casa e veio a água de novo —disse Irena de Souza.
Filhos e netos se mobilizaram para ajudar a tirar, do segundo piso, o barro que foi espalhado pela casa. Questionada se tem medo de viver tudo isso de novo mais a frente, a idosa respondeu que sim, mas que pretende enfrentá-lo morando ali.
— Quando a água vir, eu vou tirar as minhas coisinhas de dentro de casa. Eu não pretendo sair. A varandinha é gostosa, de tardezinha eu sento aqui pra tomar um chimarrão e olhar o rio. É muito bom aqui — comentou.