O mês de setembro seria o do primeiro encontro dos Weirich, que teria como sede justamente Roca Sales, uma das cidades assoladas pela enchente na região o Vale do Taquari. O evento foi cancelado, em respeito aos atingidos e às pessoas que perderam a vida. Entre elas, Adila Weirich, 89 anos, uma das 50 vítimas fatais confirmadas pelas autoridades gaúchas. No caso dela, porém, a família sofreu duplamente.
Primeiro, os entes queridos de Adila choraram o falecimento da idosa, que gostava de estar sempre maquiada e sorrindo. E depois lamentaram a dificuldade em lhe prestar homenagens póstumas, já que Adila foi enterrada no lugar de outra pessoa, em Muçum.
No dia mais severo da enxurrada, 4 de setembro, a idosa estava com a sua cuidadora em casa, na Rua Napoleão Maioli. Assim como muitos moradores da região, ela preferiu ficar na residência, acreditando que o Rio Taquari não invadia as construções da forma como aconteceu.
— Quando a água entrou em casa, naquela noite, as duas subiram no fogão a lenha para se protegerem. A Tila (apelido de Adila) se segurava na cuidadora se queixando de frio, muito frio — relata a familiar Kailane.
Em dado momento, um móvel foi movido pela força da correnteza e se chocou com o fogão, derrubando as duas. A acompanhante de Adila tentou, mas não conseguiu alcançar a idosa, que morreu por afogamento. Buscando como único refúgio segurar-se na chaminé do fogão a lenha, a cuidadora foi resgatada quando já estava apenas com a cabeça para fora da água, às 9h de terça-feira (5).
Identificação errada
O corpo de Adila esteve entre os primeiros encontrados. No entanto, um equívoco fez com que a família demorasse a poder se despedir. Ela foi enterrada em Muçum, como se fosse Beatriz Maria Pietta, dada como falecida até então.
— A identificação se deu pelas impressões digitais no dia 9 de setembro. Após o procedimento, o corpo foi apresentado para a família e reconhecido, no DML (Departamento Médico Legal) em Porto Alegre — relatou o diretor-geral adjunto do Instituto-Geral de Perícias (IGP), Maiquel Luis Santos, na ocasião.
No dia 9, Adila foi sepultada junto de Alvaro Pietta, 75 anos, e o filho Macximiliano Ricardo Pietta, 46, ambos de Muçum, depois da despedida das famílias no velório coletivo em Vespasiano Corrêa.
Por conta da condição avançada de degradação do corpo e exposição prolongada à água, a digital de Adila ficou comprometida, segundo o diretor-geral adjunto do IGP. Em 11 de setembro, foi solicitada a exumação para exame de DNA e o corpo da moradora de Roca Sales foi desenterrado e submetido à nova análise. Os restos mortais de Adila voltaram para a família Weirich no dia 13 e o nome de Beatriz retornou à lista de desaparecidos.
Resolvido o engano, a idosa de 89 anos foi enterrada no Cemitério Evangélico de Roca Sales, na manhã de 14 de setembro.
O encontro cancelado dos Weirich reuniria cerca de 300 pessoas do Vale do Taquari, outras regiões do Estado e do Brasil, além de pessoas com o mesmo sobrenome vindas do Uruguai e da Alemanha.
— Ainda estamos vendo se vamos fazer no ano que vem ou não. Muita gente perdeu tudo. Não tem clima — lamenta Kailane Weirich, uma das organizadoras.
Conhecida na família por ser uma pessoa querida e vaidosa, não era raro ver Adila exibindo um sorriso constante, sempre disposta a brincadeiras, mesmo depois da viuvez. Desde que o marido Ivo Weirich faleceu, morava sozinha no centro de Roca Sales. Ela deixa dois filhos, Egon e Henrique.