A Defesa Civil de Muçum, no Vale do Taquari, calcula que 80% da cidade está sob as águas do Rio Taquari na noite desta segunda-feira (4). De acordo com o órgão, centenas de pessoas se abrigaram nos telhados de suas casas para fugir da cheia.
É o caso de Beatriz Vilasboas. Em entrevista ao Estúdio Gaúcha, da Rádio Gaúcha, desta segunda e abrigada no teto da residência com a filha, o genro e os netos, a moradora de Muçum descreveu a situação na cidade (ouça o relato abaixo):
— Agora parou de chover e estamos mais descansados, mas ainda estamos esperando o resgate. Estamos desde às 22h esperando o resgate, mas tudo começou às 19h. Subiu muito rápido o nível do rio. A altura da água é 25 metros.
Segundo Douglas Pessi, engenheiro ambiental do município e que atua junto à Defesa Civil, a cidade está ilhada, uma vez que a RS-129, que é o principal acesso ao município, está totalmente bloqueada no sentido Encantado-Muçum. Segundo ele, esta é a maior enchente da história da cidade.
A prefeitura solicitou apoio de helicópteros ao governo do Estado.
— O relato que a gente pode dar é de caos, de uma preocupação muito grande com as vidas, porque temos algumas dezenas de famílias que estão ilhadas, algumas que estão em seus telhados das casas para tentar fugir das casas. As águas estão com força, com correnteza, então a situação de risco é muito alta. Há dificuldade, inclusive, do Corpo de Bombeiros e das equipes de resgate de acessar esses espaços. A gente tem pedido encarecidamente a vinda de helicópteros, porque é o que pode salvar essas vidas agora, porque o rio ainda está subindo e ainda deve subir por mais um tempo. Então é uma situação dramática — disse o prefeito Mateus Giovanoni Trojan à Rádio Gaúcha.
O nível mais alto do Rio Taquari no município foi registrado em 2020, quando alcançou a marca de 22m70cm. A expectativa da Defesa Civil, no entanto, é que o rio alcance os 25 metros se continuar no ritmo de elevação atual.
Conforme o órgão, o Corpo de Bombeiros de Encantado, que atende a cidade, está se revezando no socorro a outros municípios da região onde há estragos, como Roca Sales. A solução encontrada foi pedir apoio à guarnição de Guaporé.
O município ainda tenta se recuperar do temporal de granizo que devastou a cidade em agosto. Nesta segunda-feira, Trojan está em viagem a Brasília para buscar recursos para as obras de recuperação quando foi surpreendido pela notícia do novo temporal.
— É a maior enchente da história do município. Boa parte do município está sem energia elétrica e incomunicável. Ainda não temos uma projeção dos estragos — afirmou o prefeito.
Em entrevista à Rádio Gaúcha no início da madrugada desta terça-feira (5), Trojan estimou aproximadamente 50 pontos com pessoas ilhadas, destacando que não há informações sobre quantas pessoas estão em cada um.
Ouça o relato da moradora de Muçum Beatriz Vilasboas:
Municípios vizinhos
A enchente também provoca prejuízos em outros municípios da região. Imagens em redes sociais mostram alagamento na área central de Encantado, onde a água quase alcança a altura superior de portas e janelas. Segundo o prefeito, Jonas Calvi, que falou à Rádio Gaúcha no início da madrugada desta terça-feira, a situação é "muito complicada" em vários bairros. Ainda não há um levantamento oficial de afetados na cidade, mas há "com certeza, mais de 100 pessoas ilhadas", descreveu. Só na localidade de Jacarezinho, o prefeito estima cerca de 20 pessoas ilhadas em um condomínio.
Em Roca Sales, as ruas também estão tomadas pelo rio. Em entrevista à Rádio Gaúcha no início da madrugada desta terça, o prefeito, Amilton Fontana, estima que pelo menos 50% do município tenha sido afetado. Ele relata que há entre 40 e 50 pessoas aguardando resgate em cima de telhados ou nos forros das casas, por exemplo.
— Agora, nesse momento, nós temos muitas pessoas em cima de telhados das casas precisando de resgate e não temos como chegar (até elas). É lamentável, até difícil de falar, porque as pessoas estão ali pedindo socorro e a gente não consegue chegar em todos — desabafou.