A passagem de um novo ciclone extratropical sobre o Rio Grande do Sul — o terceiro em menos de um mês — resultou em uma morte e 23 feridos, atingiu com maior força 51 municípios de diferentes regiões e mantém o Estado sob suspense.
A amplitude geográfica do fenômeno, com chuva forte e rajadas de vento superiores a 100 km/h, surpreendeu as autoridades e motivou a Defesa Civil a emitir alerta de risco de inundação para todas as áreas do Estado, o que pode se confirmar ao longo das próximas horas ou dias, a depender do ritmo de elevação dos rios em pontos como o Alto Uruguai e os vales do Caí, do Taquari, do Sinos e do Paranhana.
A mais recente onda de tempestades a penalizar os gaúchos chegou a deixar 790 mil consumidores sem energia elétrica no fim da manhã desta quinta-feira (13), destelhou pelo menos 5 mil casas e bloqueou total ou parcialmente 10 rodovias, além de derrubar árvores sobre vias urbanas e motivar o cancelamento das aulas na rede estadual. A Corsan relatou problemas de abastecimento de água (causados pela falta de energia) em 32 municípios de áreas como as regiões Sul e Metropolitana, Serra e Litoral, onde a expectativa era de que a situação se normalizasse até a noite.
No fim da tarde, a contabilidade oficial indicava 17,3 mil pessoas afetadas diretamente pela violência do clima, entre as quais 234 estavam desabrigadas (dependendo de abrigo público) e outras 331 se refugiaram com amigos ou parentes.
— Em que pese não ter sido tão agressivo como foi o primeiro, lá em junho (que deixou 16 mortos), é um ciclone também grave e, inclusive, atingiu mais regiões que os dois anteriores. Estamos, hoje, com todo o Estado com alto risco hidrológico e alerta alto da Defesa Civil — afirmou o governador em exercício, Gabriel Souza, em uma entrevista coletiva concedida no meio da tarde.
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) confirmou que o fenômeno teve características incomuns, como a grande abrangência e o fato de ter se formado mais para dentro do continente do que na direção do mar. A Região Sul, onde o vento teria soprado com rajadas de até 140 km/h em Rio Grande, segundo medições extraoficiais feitas pela praticagem da Barra, foi uma das mais atingidas ainda no período entre a madrugada e a manhã de quinta. No mesmo município, um homem de 68 anos morreu quando uma árvore caiu sobre a casa em que ele estava, no bairro Maria dos Anjos.
Com o passar das horas, o ciclone rumou para Leste e passou a castigar com mais força o Litoral Norte. Antes de seguir para o oceano, danificou a estrutura da Festa Nacional do Peixe, em Tramandaí, onde também destelhou 10 casas.
Acumulados de até 110 milímetros de chuva continuaram a encher os rios e deixaram em alerta a Defesa Civil. Em São Sebastião do Caí, por exemplo, o Rio Caí subiu 90 centímetros em um intervalo de apenas quatro horas e chegou a cerca de 12 metros de nível por volta do meio-dia (onde a cota de inundação é de 10m50cm). Isso forçou a remoção de quase 200 pessoas para um abrigo municipal, enquanto outras 30 ficaram desalojadas e procuraram abrigo na casa de familiares ou parentes.
Em muitas outras cidades, como Porto Alegre, os temporais provocaram obstruções temporárias das vias em razão da queda de árvores, deixaram sinaleiras desligadas e causaram transtornos. O acúmulo de água ou a falta de energia elétrica provocaram restrições nos atendimentos em postos de saúde da Capital, onde algumas unidades puderam atender apenas a casos considerados graves.
As aulas da rede estadual foram suspensas em todo o Estado, mas, conforme o Piratini, devem ser retomadas "sob normalidade" a partir desta sexta-feira (14) — salvo onde o ciclone tiver provocado danos estruturais que impeçam as atividades.
— A partir de amanhã (sexta), as aulas podem retomar com tranquilidade, normalidade (...). No caso das escolas que tiveram eventualmente avarias, em geral destelhamento pelo vento ou pelo granizo, estamos fazendo diagnóstico e vamos trabalhar para que tenham condições de receber seus alunos. Se ainda estiverem sem condições pelas avarias do tempo, a orientação é de que as aulas ocorram de maneira online — declarou Souza.
O governador em exercício e o coordenador da Defesa Civil Estadual, coronel Luciano Boeira, enfatizaram a importância de a população se manter atenta a eventuais novos alertas de inundação e orientações oficiais. Boeira revelou que as autoridades trabalham com a hipótese de a situação se agravar.
— Inevitavelmente teremos, sim, inundações em algumas regiões do Estado — afirmou o coordenador da Defesa Civil aos jornalistas.
A recomendação é que moradores de pontos mais vulneráveis já tomem providências.
— É muito importante que os gaúchos que moram em área de risco possam sair dessas áreas, ir para casas de amigos, conhecidos, ou abrigos identificados pelas prefeituras. A previsão para o inverno deste ano é, infelizmente, de muita chuva ainda em agosto e setembro, o que pode ocasionar outros eventos dramáticos. A mensagem é que acreditem nos avisos da Defesa Civil — complementou Gabriel Souza.