O município de Caraá, no Litoral Norte, distante 90 quilômetros de Porto Alegre, vive um quadro de guerra na manhã deste sábado (17). A passagem do ciclone extratropical deixou um cenário de destruição, com casas arrastadas pela força das águas, pontes rompidas, inundações e muita desolação entre os pouco mais de 8 mil habitantes.
— Nunca vimos algo assim. A água levou nossas sete vacas, um porco, galinhas e patos. Perdemos a silagem também — lamenta Angela Maria Berzagui Pérsico, 35 anos.
A moradora da localidade de Alto Cará vive ao lado do Rio Caraá, que está com a água passando por cima da ponte nessa região. Há muitas árvores caídas e alagamentos em plantações.
O marido de Angela, Odair Dias da Silveira, 42, usava uma motosserra neste sábado, tentando abrir caminho na ponte. Um motoqueiro enfrentou dificuldades, mas conseguiu realizar a travessia.
— Há 15 anos, deu uma chuvarada parecida, mas como essa nunca aconteceu — diz.
O casal, o filho de 10 anos e outros familiares fugiram de caminhonete para uma área mais alta. Porém, o veículo atolou e a família se abrigou na Igreja Nossa Senhora das Lágrimas. A casa deles está sem água e luz.
Equipes do Corpo de Bombeiros Militar, das Forças Armadas e de outros órgãos prosseguem nas buscas por oito pessoas desaparecidas após o transbordamento dos rios Caraá e Sinos.
Três pessoas seriam de uma mesma família, sendo dois idosos, de 75 e 73 anos, e uma adolescente de 14 anos. Todos teriam sido arrastados pelas águas na localidade de Passo do Marco.
A ponte do Arroio do Carvalho, situada na RS-030 e que delimita os municípios de Caraá e Santo Antônio da Patrulha, caiu. Em função disso, o acesso tem sido feito pelos motoristas pelo Morro da Borússia, em Osório. O trajeto está bastante prejudicado.
Três localidades de Caraá sofrem mais com os efeitos das chuvas de quinta (15) e de sexta-feira (16): Passo do Marco — onde vídeos nas redes sociais circulam mostrando uma casa sendo levada pela correnteza —, Rio dos Sinos e Vila Nova. Muitas pessoas desses lugares perderam tudo.
Os desabrigados estão sendo acolhidos no Centro de Tradições Gaúchas (CTG) Sentinela dos Sinos, no centro da cidade. Durante a manhã, cerca de 25 de pessoas se concentravam no local, onde receberam alimentação e camas para dormir.
Além do Corpo de Bombeiros Militar, outros órgãos participam de forma integrada das operações em Caraá, como Brigada Militar, Defesa Civil e o Comando Ambiental, que possui embarcações.