Uma combinação devastadora de vendavais com chuvas inclementes assolou o Rio Grande do Sul na madrugada de sexta-feira (16). Ao menos cinco pessoas morreram e outras nove estavam desaparecidas até a manhã deste sábado (17). A tempestade varreu toda a faixa nordeste do Estado, afetando municípios da Região Metropolitana, da Serra, do Vale do Sinos e do Litoral Norte.
Em termos técnicos, o RS foi atingido por um ciclone extratropical, fenômeno originado do contraste de temperaturas quando massas de ar frias e secas avançam sobre outras quentes e úmidas. Na vida de mais de 1 milhão de gaúchos, o inverno chegou com uma semana de antecedência, trazendo morte, caos e destruição a reboque de um redemoinho de ventos acima dos 100 km/h.
Em São Leopoldo, o corpo de um rapaz de 27 anos surgiu boiando em meio às águas que inundaram o bairro Campina após ser atingido por uma descarga elétrica. Mais cedo, a sete quilômetros dali, um carro com dois irmãos caiu num valão formado pelo transbordo do Arroio Krause, no bairro Rio Branco.
Policiais militares que estavam sinalizando a rua entraram na água, mas conseguiram resgatar com vida apenas um dos ocupantes, o outro, de 23 anos, morreu.
A terceira morte aconteceu em Maquiné, no Litoral Norte, onde um homem de 69 anos estava dentro de casa com a esposa e a sogra quando houve deslizamento de terra. As duas mulheres estão desaparecidas.
O quarto óbito foi observado em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, em decorrência de afogamento. O quinto foi registrado em Gravataí.
As chuvas começaram ainda na manhã de quinta-feira (15), mas os estragos só começaram à noite, sobretudo no Litoral. Maquiné foi um dos municípios mais castigados pelo aguaceiro: 250mm de chuva em menos de 24 horas — volume 50% superior à média do mês inteiro. Eram 23h12min de quinta quando o prefeito João Marcos Bassani dos Santos foi às redes sociais fazer um apelo desesperado para que as pessoas deixassem as residências em função dos alagamentos.
— Saiam das suas casas, por favor. Estou pedindo, implorando. Têm ônibus aqui. Saiam, saiam para lugares mais altos. Não esperem para depois, depois não tem como — alertou.
A madrugada avançou impiedosa, com o temporal derrubando pontes, bloqueando estradas, tombando árvores e rompendo cabos de energia. Pela manhã, havia 460 mil pontos sem luz no Estado e 24 rodovias fechadas por deslizamentos ou inundações. Ao final do dia, o saldo era de 21 estradas bloqueadas e 295 mil residências sem luz. Em Três Forquilhas, a força do vento arrastou uma casa até o meio da pista da RS-417.
As enchentes alagaram bairros inteiros, sem poupar doentes e idosos, com as águas invadindo um hospital em Capão da Canoa e um asilo em Porto Alegre. Em botes e helicópteros, mais de 1 mil homens das forças de segurança atuaram nos resgates de ao menos 625 pessoas. Mais de 20 municípios suspenderam as aulas e o Aeroporto Internacional Salgado Filho cancelou pousos e aterrissagens.
No início da tarde, o governador Eduardo Leite anunciou a liberação de R$ 1,1 milhão para cobrir a recuperação de parte dos estragos. Em telefonema a Leite, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva colocou o governo federal à disposição e anunciou a vinda ao Estado dos ministros Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional), Wellington Dias (Desenvolvimento Social) e Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação).
"Gostaria de manifestar minha solidariedade com a população que está sofrendo com as fortes chuvas e um ciclone que passou pela região. Estamos atentos para dar o apoio aos governos estaduais e prefeituras", escreveu o presidente em suas redes sociais.
— O pior do ciclone já passou, ele está se afastando do Estado, indo pelo Oceano Atlântico — tranquiliza Henrique Repinaldo, meteorologista do Centro de Pesquisa e Previsões Meteorológicas da Universidade Federal de Pelotas.
A chuva deve recuar neste final de semana em todo o Estado, com queda brusca das temperaturas. A previsão projeta novas precipitações a partir de terça-feira (20). O inverno começa na próxima quarta (21), com longos períodos de chuva e bastante umidade.