O ciclone extratropical que atingiu o Estado segue gerando reflexos também para as pessoas que ficaram sem energia elétrica e sem água. Os locais mais afetados são a Região Metropolitana, o Vale do Sinos e o Litoral Norte.
Na zona norte de Porto Alegre, os pais do menino Matteo Schmitz Piccin Jardim, de três anos, passaram por momentos de tensão nos últimos dias. A residência, na Rua Sylvio Sanson, no bairro Sarandi, foi uma das que ficou sem energia elétrica na madrugada de sexta-feira (16). O garoto, diagnosticado com síndrome de Down e Atrofia Muscular Espinhal tipo 1 (AME), necessita de aparelhos como um respirador.
— Caíram árvores e fios. A situação estava caótica em todos os lugares. Então, no começo entendemos. Mas foram reestabelecendo nos outros lugares e, aqui, nada — explica Leticia Schmitz, 38 anos, a mãe de Teteo, como é chamado o menino.
Ainda na sexta-feira, cerca de seis horas após ficarem sem luz, como não havia previsão de retorno, os pais decidiram adquirir um gerador a gasolina. O equipamento — que custou cerca de R$ 2 mil — foi instalado na garagem e ligado por um fio até chegar ao quarto de Matteo. Além do respirador, que utiliza o tempo todo, o menino também necessita da assistência de outros aparelhos, como aspirador de secreção.
— Todos equipamentos que ele usa precisam de luz. Se não fosse o gerador, ele precisaria ir para o hospital — diz a mãe.
Por outro lado, a família precisa conviver com o barulho alto do gerador, que se tornou incômodo inclusive para o menino, segundo a mãe. Além da falta de energia elétrica, a residência também ficou sem água — o abastecimento foi normalizado ainda no sábado. Às 17h25min deste domingo, a energia também foi reestabelecida na casa de Teteo. Na vizinhança, ainda havia residências sem energia elétrica.
No Cristal, moradores relatam insegurança
Na zona sul da Capital, a falta de energia elétrica, além de transtornos, trouxe sensação de insegurança para moradores da Rua Jaguari, no bairro Cristal. Duas árvores e dois postes tombaram com a força do vento. Em razão disso, as moradias ficaram sem energia elétrica desde a madrugada da sexta-feira. Uma das clientes, Aline da Silva Gonçalves, 46 anos, relata que a vizinhança convive também com medo.
— Estão entrando nos pátios para levar a fiação da entrada da casa. Fizeram isso com várias residências. Aproveitam que está sem luz para furtar. Nessa madrugada, cortaram a cerca elétrica e entraram de novo para tentar levar o medidor de luz e os cabos. Meu marido está soldando agora. Ninguém consegue dormir direito. Está todo mundo com medo — diz.
Aline afirma que buscou contato com a CEEE Equatorial, mas não havia obtido resposta sobre o retorno da energia até o início da noite deste domingo. Receosos com a situação, ela e o marido decidiram levar o filho de nove anos para dormir na casa da avó materna. Além do medo, a técnica em telecomunicações diz que ainda teve prejuízos, com os alimentos que estragaram.
— Tudo que estava na geladeira. Foi tudo para o lixo, inclusive o que tinha congelado. É todo um transtorno. Fora o cansaço que estamos. Tu te sentes desamparada na hora em que precisa — desabafa.
Também na Zona Sul, um transformador danificado deixou Alexandre Rodrigues, 64 anos, às escuras. Morador da Rua Doutor Vergara, no bairro Belém Velho, ele conta que os reparos chegaram a ocorrer em ruas próximas, mas não chegaram até o local. Até o início da noite, a família se preparava para mais uma madrugada sem luz.
— Somente na minha casa são quatro pessoas. Mas aqui no mesmo terreno são quatro famílias. Todos na mesma situação. Os mantimentos estão se deteriorando. Com esse frio, nem banho quente podemos ter. Nunca tínhamos ficado tanto tempo assim sem luz — reclama.
Como atua de forma remota, na área de investimentos em consórcios, não pode nem mesmo trabalhar nos últimos dias.
— Houve a queda de uma árvore um pouco mais abaixo, já tiraram. As equipes passam toda hora aqui, mas ninguém para resolver o problema desse transformador — diz o morador.
Sem previsão de reestabelecimento
Até o início da noite deste domingo (18), na área de cobertura da CEEE Equatorial, em torno de 29 mil unidades consumidoras permaneciam sem abastecimento — houve uma queda de apenas dois mil em relação ao balanço divulgado na tarde de sábado (17). Porto Alegre, Viamão, Alvorada, Caraá e Santo Antônio da Patrulha são os municípios mais impactados na área de concessão da distribuidora.
Segundo a empresa, não há previsão de quando o serviço estará completamente restabelecido no Estado. A CEEE Equatorial informou que os prazos para a solução das ocorrências dependem da complexidade de cada caso, como a dificuldade de acesso aos locais afetados.
Já na área da RGE, a última atualização indica 6,8 mil clientes ainda sem energia elétrica, principalmente nos municípios de Gravataí e Canoas. A distribuidora informou que algumas áreas seguem alagadas, dificultando o acesso à rede elétrica, por razões de segurança. Isso ocorre em pelo menos 2,8 mil pontos. Porto Alegre, Alvorada, Caraá e Santo Antônio da Patrulha são os municípios mais impactados na área de concessão da distribuidora. Não há previsão de quando o serviço estará completamente restabelecido no Estado.
Falta de água
Segundo o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), a Estação de Bombeamento de Água Tratada (Ebat) Parque Santa Fé de Porto Alegre ainda estava em manutenção no início da noite deste domingo. Essa situação afeta o abastecimento nos bairros Rubem Berta e Parque Santa Fé. A previsão do departamento é de que o retorno ocorra entre a noite deste domingo e a madrugada desta segunda-feira (19).