A chuva e o vento fizeram com que o arroio do Carvalho, que marca o limite entre Santo Antônio da Patrulha e Caraá transbordasse na noite dessa quinta-feira (15), arrastando pontes e deixando trabalhadores isolados. Segundo relatos de moradores de uma casa na margem do arroio, foi a maior cheia do córrego em pelo menos 46 anos.
— Já tinha visto subir até a ponte, mas entrar em casa nessa altura, nunca — conta Fabiana Meregalli, 46 anos, moradora de Maquiné que foi para a casa dos pais passar a noite com eles.
Uma ponte de madeira e outra de concreto que ficam a poucos metros da casa não existem mais. Foram carregadas pela correnteza ainda por volta das 22h. Em volta delas, árvores de grande porte restam inclinadas ou deitadas, com as raízes expostas, insuficientes para conter força do vento da madrugada.
— Os vizinhos do outro lado subiram no telhado e gritavam pedindo ajuda. A gente gritava de volta tentando acalmar eles, pois não tinha o que fazer — comenta Darci Jacoby, 77, pai de Fabiana.
Às 8h15min desta sexta-feira (16), eles tomavam café da manhã com pão caseiro e linguiça, ao lado do cômodo que ainda faltava limpar depois de a água atravessar o imóvel. Do lado de fora, Leonir Rosa, 28, conversava com o até então desconhecido Paulo Roberto Silveira, 53. Ambos moram em Caraá e não tinham como voltar pra casa desde a noite anterior.
— Trabalhei das 18h até a meia noite. Às 22h caiu a ponte. Estou desde então sem comunicação com minha esposa Morgana, que está em casa do outro lado — relata Leonir.
— Vimos a previsão de chover 100 milímetros, mas nunca tinha sido tanta água tão rápido. Este riacho aqui a gente normalmente cruza caminhando pelas pedras, de chinelo e sem molhar o pé — conta o mais velho, que também garante que o fenômeno é inédito.
Depois de meia hora conversando na chuva, voltaram para seus veículos para pensarem em uma alternativa, pois as pontes não existem.