Um grupo de 14 baianos radicados na Serra gaúcha esteve, nesta sexta-feira (24), na sede da RBS, em Porto Alegre, para apresentar a sua versão sobre os fatos relacionados ao resgate de 207 trabalhadores conterrâneos em situação análoga à escravidão, vinculados à empresa Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde Ltda, de Bento Gonçalves.
Eles afirmaram trabalhar na colheita da uva, cuja janela costuma ocorrer entre janeiro e março de cada ano, contratados por Pedro Augusto de Oliveira Santana, proprietário da Fênix.
Eles afirmam que, desde meados de março, período que coincide com o fim da colheita, estão desempregados. Dizem que estão sendo prejudicados, com falta de alocação no mercado, por conta da repercussão negativa da operação do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Ministério Público do Trabalho (MPT) e da Polícia Federal (PF), realizada no dia 22 de fevereiro.
O grupo era composto, em maioria, por baianos que estão radicados há mais tempo na Serra. Apenas um do total de 14 residiria na pousada de onde foram resgatados os 207 homens, que tinham menos de um mês em Bento Gonçalves quando descobertos pelas autoridades.
Um dos líderes do grupo, Rafael da Silva de Jesus mora há oito anos em Garibaldi. Ele diz que trabalha com frequência na colheita da uva, entre janeiro e março, e no restante do ano busca outros serviços, não necessariamente por intermédio da Fênix. Jesus rejeita as constatações das autoridades de que teria havido maus tratos, alimentação precária, alojamento degradante, agressões, ameaças e servidão mediante dívida - uma das acusações é de que os resgatados somente podiam comprar alimentos em um mercadinho específico e, pelos preços elevados, ficavam devendo. Por isso, em vez de receber salário, contrairiam dívida.
— Nunca atrasou o salário, tinha limpeza na pousada e a alimentação era de qualidade. Ninguém era obrigado a comprar naquele mercado. Foi uma armação muito bem feita — afirmou Jesus, sem apontar os mentores da alegada armadilha.
Sobre as agressões a trabalhadores, que envolveriam a participação de policiais militares, o grupo disse que "se houve, não teve participação da Fênix". A pousada onde os resgatados ficavam era propriedade de outro empresário da região.
Outro integrante do grupo, Bruno Araújo de Oliveira reside há três anos e oito meses em Bento Gonçalves. Ele afirma que Santana era um bom empregador, ajudava os funcionários com necessidades e rebate que tenha ocorrido jornada de trabalho excessiva. Conforme Oliveira, o trabalho era realizado das 8h às 17h, com intervalo para o almoço.
Já Egídio Bispo da Silva Filho, único do grupo que declarou residir na pousada no período do resgate, avalia que a pensão, interditada pelas autoridades por ambiente degradante, "era um lugar bom de morar".
Também fizeram elogios a Santana, que controla um grupo de nove empresas na Serra, os trabalhadores Dinailto Santana Moreira e Anderson dos Santos Matos. A Fênix, procurada pela reportagem, confirmou que eles são ex-funcionários.
A comitiva chegou a Porto Alegre em um micro-ônibus e acompanhada de um profissional de imagem.