Antônio Sérgio Meller, 57 anos, assistia à televisão na sala de casa por volta das 16h de sábado (21). Naquele momento, um temporal se aproximava da região de Lajeado Traíra, em Alecrim, no noroeste do RS. Ao fechar as janelas, o comerciante lembrou de ter visto, momentos antes, algumas pessoas em uma ilha localizada no Rio Uruguai, na fronteira com a Argentina.
Desconfiado, pegou um binóculo. Do segundo piso da casa à beira do rio, Meller consegue avistar a água porque a sala é envidraçada. Ele olhou para a ilha com o equipamento em busca do grupo que se banhava no local, que costuma ser frequentado durante os fins de semana.
— Levei um choque quando não vi ninguém lá. Não acreditei quando entendi que eles tinham regressado no meio da tormenta. Passei o binóculo e vi todas aquelas pessoas na água, se debatendo. Foi uma cena de terror — conta.
Sozinho, Meller entrou em um barco próprio e rumou para o ponto do naufrágio de uma embarcação verde, de madeira, com cerca cinco metros de comprimento, que transportava oito pessoas. Demorou cinco minutos para percorrer um quilômetro de casa até onde estavam as vítimas, e iniciar o resgate.
— É um instinto do ser humano socorrer uma pessoa que está se afogando. Fiz o possível para chegar lá o mais rápido que pude. Graças a Deus, tirei da água duas crianças e um adulto com vida — comenta.
Meller resgatou com vida Emili Vitória Machado, 5 anos; Araceli Lopes, de 8; e Maria Graciela Lopes, de 40.
A mãe de Emili, Sinara Bogler Kuhn, 47 anos, morreu. O pai, Jorginho Valdemir Machado, 45, teve o corpo encontrado na manhã desta segunda-feira (23).
Noeli Ceconi da Silva, 39 anos, e o filho Davi Pimentel, 7 anos, também morreram. Siderlei Pimentel, 40 anos, é a quinta vítima fatal, tendo o corpo localizado também na manhã desta segunda. Ele e Noeli são cunhados de Maria Graciela.
O ribeirinho relata ter visto apenas duas pessoas com coletes salva-vidas: uma das meninas resgatada com vida e o menino que morreu. Por isso, na conversa com a reportagem de GZH, o responsável pelo resgate de três pessoas no naufrágio faz um apelo:
— O mais importante é usar colete salva-vidas. É o que pedimos para quem se desloca em rio em pequenas embarcações. Sem colete, esse tipo de coisa pode acontecer outra vez.
Buscas
As buscas por Siderlei e Jorginho tiveram início logo depois do naufrágio. No domingo (22), o Corpo de Bombeiros Militar (CBM) empregou 12 bombeiros com três embarcações no trabalho.
A Brigada Militar (BM) deu apoio aéreo com um helicóptero e o Batalhão Ambiental da BM disponibilizou uma moto aquática. Os bombeiros encontraram e tiraram da água o barco que naufragou. Os dois corpos foram encontrados no começo da manhã desta segunda-feira.
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