A dimensão da estiagem que atinge o Rio Grande do Sul vai ficando mais clara à medida que os seus impactos vão sendo traçados. Além dos municípios que já enfrentam racionamento de água, milhares de produtores rurais lidam com perdas. Até a tarde desta sexta-feira (27), ao menos 178 municípios já tinham declarado situação de emergência, com 92 decretos já homologados pelo Estado e 57 reconhecidos pela União.
Os últimos pedidos foram formalizados por Planalto, Três Palmeiras, São José do Herval, Porto Lucena, Humaitá, Entre Rios do Sul e Capão do Leão. Os decretos são necessários para que os municípios tenham acesso a medidas de socorro com maior agilidade.
Nos campos do RS, a escassez hídrica castiga animais e lavouras pelo menos há quatro anos seguidos. Conforme o boletim conjuntural da Emater publicado na quinta-feira (26), o milho e a soja são as culturas mais prejudicadas. Há grande variação da intensidade da estiagem nas regiões atingidas, por isso ainda é difícil quantificar em números o tamanho exato do prejuízo, explica o diretor-técnico da Emater, Alencar Rugeri. Mas é notório que o estrago é grande.
— Há uma ampliação bastante rápida das perdas. Nos pontos onde havia dificuldade está se agravando, e onde ainda não tinha, está começando. Há um aumento de intensidade (na estiagem) e de área atingida, o que nos preocupa ainda mais — diz Alencar.
A abrangência é generalizada. Somente a região Nordeste do Estado, que inclui a Serra, tem sofrido um pouco menos.
Na soja, cultura que contempla a maior área de produção no Estado, os maiores estragos ficam nas regiões de Santa Maria e Santa Rosa, segundo a Emater. Em todo o Rio Grande do Sul, já são 35,3 mil produtores do grão atingidos, conforme o órgão.
No milho, há produtores que perderam 100% da produção. Conforme a Emater, houve abandono das lavouras nas regiões mais atingidas, liberando-as para o consumo dos animais. Os maiores prejuízos estão concentrados nas regiões de Frederico Westphalen, Ijuí e Santa Maria, seguidos de Bagé, Erechim, Pelotas e Santa Rosa. Também há danos menores em Lajeado, Passo Fundo, Porto Alegre e Soledade. Em todo o Estado, são 56,7 mil produtores do grão prejudicados.
A chuva irregular não é capaz de reverter o quadro. Mesmo com os volumes que caíram na quinta (26), com temporal em cidades como Porto Alegre e Taquara, outras não registraram nada de água. Além disso, o solo não consegue reter a umidade por causa das altas temperaturas.
Os prejuízos não atingem só o campo. Em Bagé, na Campanha, o racionamento de água precisará ser ampliado para garantir abastecimento para a população. A partir da madrugada da próxima quarta-feira (1º), metade da cidade ficará, todos os dias, sem abastecimento durante 12 horas seguidas. Até então, o racionamento anunciado era de seis horas ao longo do dia. O motivo é o baixo nível de água nas barragens.
No rio Gravataí, a situação da bacia é considerada crítica pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente. Estão suspensas todas as captações de água que não sejam para consumo humano. O rio atingiu nível de 1,1m na estação Alvorada Corsan e de 0,46m na régua da Corsan de Gravataí, na medição de quinta-feira (26). As captações normais são permitidas acima de níveis 1,60m e 0,80m, respectivamente.
Na área atendida pela Corsan, a companhia informa que nenhum município passa por racionamento. No entanto, ao menos seis locais contam com apoio de caminhões-pipa para manter o abastecimento de água para a população. São eles:
- Morro Redondo, na Região Sul
- Itaara e Restinga Seca, na Região Central
- Fontoura Xavier e São João da Urtiga, na Região Norte
- Tenente Portela, na Região Noroeste