Passadas as eleições e com os olhares voltados para a Copa do Mundo, os lojistas intensificam ações para o momento mais aguardado do varejo: as compras de final de ano. Em 2022, além do tradicional Natal, que cada vez mais divide o bolo de consumo das famílias com a Black Friday, o evento esportivo fora da costumeira data, a cada quatro anos, soma-se aos acontecimentos que tendem a catalisar as compras no período.
Injeção de R$ 16 bilhões na economia gaúcha com o pagamento do 13º salário, renda real e nível da ocupação maiores do que os registrados em 2021 são alguns dos trunfos para aquecer as vendas. Por outro lado, juros mais elevados, endividamento em alta e redução do nível de poupança no Estado freiam em parte o otimismo.
No Rio Grande do Sul, enquanto as decorações dos shoppings e estabelecimentos comerciais modelam o clima, pesquisas de entidades do setor como a Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS) e Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL-Poa) dão o tom das expectativas.
Economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo antecipa que o ano é atípico e engana-se quem pensa que a sobreposição inédita de Copa do Mundo, Black Friday e Natal será negativa. Segundo ela, cada vez mais, o movimento indica que não haverá “uma venda de Natal, e sim de final de ano”, em razão do crescimento contínuo da Black Friday.
Desde 2010, em tradição importada dos Estados Unidos, a data passou a ser sinônimo de ofertas e promoções, na última sexta-feira de novembro, também no Brasil. Só que, com o passar dos tempos, as compras, antes pessoais, passaram a contemplar também os presentes.
Neste ano, por exemplo, 50,6% das pessoas entrevistadas pela Fecomércio indicam que vão utilizar as oportunidades da Black Friday para a aquisição de itens natalinos. A opção se justifica, diz Patrícia, uma vez que 74,5% dos entrevistados anotam o preço como o principal fator para decisão de consumo.
— Quem participa da Black Friday tem gastos mais elevados do que no Natal, que, por sua vez, envolve muito mais gente. Ainda que se consolide, ano após ano, não é tão grande, mas com o passar do tempo as pessoas usam a data, marcada por promoções, para as compras de Natal — analisa.
Economista-chefe da CDL-Poa, Oscar Frank aponta o ganho de massa salarial real e os maiores níveis de ocupação dos gaúchos no mercado de trabalho como fatores que podem incentivar o consumo. Estudo da entidade com consumidores e empresários da Capital e da Região Metropolitana para o período aponta a promessa de um ambiente positivo e de recuperação, frente a um longo período de recessão pós-pandemia e ao tensionamento pós-eleitoral. No entanto, a ressalva fica por conta da lenta recuperação da economia.
Renda e crédito
Frank comenta que indicadores internos configuram o aumento sistemático da inadimplência. Em 2022, dados do Banco Central (BC) assinalam que 29,4% da renda familiar está empenhada com o pagamento de juros de dívidas, ante 24%, em 2021, e 20%, em 2020. Significa que, de cada R$ 100, cerca de R$ 30 estão comprometidos, o maior nível da série histórica, em um momento em que a capacidade de poupança também diminui.
Esses fatores, acrescidos dos juros elevados, funcionam como um freio para os financiamentos. Diante dos fatos, o economista projeta melhores desempenhos em setores mais dependentes da renda, caso do vestuário, calçados e artigos domésticos. Naqueles movidos por crédito — como veículos, móveis, eletrônicos e eletrodomésticos, que também compõem os principais atrativos da Black Friday —, a tendência revela menos aquecimento.
Mais do que o comércio, o economista afirma que os serviços saem fortalecidos. Com o adendo da Copa do Mundo, a sequência da normalização dos eventos presenciais, em 2022, privilegia os setores de alimentação, restaurantes e turismo.
Federações gaúchas demostram otimismo
A Federação Varejista do Estado do Rio Grande do Sul projeta que o desempenho gaúcho deve superar a média nacional. Com base em pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) que crava R$ 66,6 bilhões na economia nacional durante a o Natal, a entidade ainda espera produzir dados regionais.
Enquanto isso, o presidente Ivonei Pioner afirma que a expectativa no Rio Grande do Sul é “por um tíquete médio superior ao que é registrado em outros Estados”. Ele justifica o otimismo pelos níveis de ocupação e maiores rendas reais de salários no Estado.
Já para a Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do RS (FCDL-RS) o momento é de otimismo. A entidade lembra que o último trimestre do ano sempre traz resultados mais expressivos e, neste 2022, além do Natal e da Black Friday, há a Copa do Mundo, que impulsiona a demanda por artigos ligados ao evento. De acordo com o presidente, Vitor Augusto Koch, além do 13º salário, a redução dos preços de diversos produtos também facilita a compra de presentes pelas famílias, sem corroer o orçamento familiar.
— O 13º salário chega em um momento no qual temos eventos favoráveis à expansão do consumo, como a Black Friday, a Copa do Mundo e o Natal. Esse dinheiro extra que os trabalhadores vão receber pode ajudá-los tanto no pagamento de dívidas, o que permite a eles regularizar sua situação de crédito, quanto investirem na aquisição de produtos. Isso, sem dúvida, traz um alento para o comércio — avalia Koch.
Fatores que jogam a favor do consumo (na comparação com 2021)
- Injeção de R$ 16 bilhões do 13º salário no RS
- Maior massa salarial e nível de ocupações no RS
- Copa do Mundo fora de época
- Redução da inflação que eleva poder de consumo
Fatores que jogam contra o consumo (na comparação com 2021)
- Maior endividamento das famílias gaúchas
- Menor capacidade de poupança das famílias gaúchas
- Juros mais elevados
- Maior comprometimento da renda com dívidas