Morreu neste sábado (15), aos 90 anos, Edio Erig. Ele estava internado no Instituto de Cardiologia, em Porto Alegre, desde o dia 23 de setembro para tratar de problemas no coração e no pulmão.
Natural de Salvador do Sul, no Vale do Caí, Edio foi quem interceptou uma ordem de bombardeio ao Palácio Piratini em 1961, durante a Campanha da Legalidade. Formado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Edio era sargento da aeronáutica e estava de serviço na base aérea de Canoas na época. A mensagem ordenando o bombardeio foi interceptada por ele na sala do Oficial do Dia.
Em seguida, Edio comunicou aos colegas que estavam de serviço o que estava acontecendo. A reação imediata foi uma revolta e os mecânicos sabotaram os aviões para que não pudessem decolar. Se os aviões decolassem carregados, não poderiam pousar sem soltar as bombas.
— Ia morrer muita gente inocente, que não tinha nada a ver com o movimento militar, porque moravam em volta do palácio — disse o ex-militar em entrevista para o jornal Folha de S.Paulo.
Em entrevista ao jornalista Juremir Machado no ano passado, que marcou os 60 anos da Legalidade, Egio, que chegou a ser preso pelo ato, contou que não se vê como um herói e que apenas agiu por senso de responsabilidade.
— Fiz o que a consciência me mandou. Se a ordem tivesse chegado antes ao comandante, outro poderia ter sido o destino. Nós não queríamos que inocentes morressem no Palácio Piratini. Quanta gente seria atingida! Uma comissão foi ao palácio comunicar que não haveria bombardeio. Pagamos prisão pela nossa rebelião. Em 1964, com o golpe, fui transferido para Belém. Lá, fui expulso da aeronáutica. Colegas fizeram uma vaquinha para eu ter passagem de volta. Só depois da anistia é que recuperei direitos — contou Egio.
O ataque, frustrado pelo sargento, tinha como objetivo calar Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, que discursava para a população de Porto Alegre em defesa da posse de João Goulart, o Jango, como presidente do Brasil. Ministros das Forças Armadas haviam vetado a sucessão legal do presidente Jânio Quadros, que tinha renunciado, ao então vice-presidente Goulart.
Edio, ao longo de todos esses anos, manteve uma posição discreta em relação ao seu feito. De acordo com a filha, Naiara, ele sempre foi uma pessoa de posicionamento firme e com um pensamento crítico muito ativo. Nos últimos anos, gostava de passar o tempo livre lendo, passeando pelo interior do Estado ou na sua casa de praia em Imbé, no Litoral Norte. Além da filha, ele deixa o genro, Airton, os netos, Lucas e Caroline, e as bisnetas, Maria Clara e Manuela.