Os vídeos no Instagram e TikTok de Cristiano Ott precisam, obrigatoriamente, daquela figurinha que diz "ligue o som". O comediante de 27 anos, morador de Frederico Westphalen, Norte do RS, é conhecido nas redes sociais por imitar os diferentes tons de uma sirene. A ferramenta empregada na fiel reprodução é uma só: o "gogó".
— Meus filhos te adoram — interrompe o motociclista Telcio Bilaski, 31 anos, que foi ao encontro de Ott durante a entrevista à Rádio Gaúcha, na manhã desta terça-feira (21), na zona norte de Porto Alegre.
Os filhos de Bilaski, de sete e 10 anos de idade, fazem parte dos mais de 320 mil seguidores do "Cara da Sirene" no TikTok. Como homenagem à sua cidade, o perfil tem o endereço @frederiquenses, mesmo caminho do Instagram.
As imitações surgiram na adolescência, mas a ideia de levar a brincadeira mais a sério surgiu há menos de meio ano.
— Meus amigos sempre gostaram, a gente brincava baixando o vidro e vendo a reação nos outros carros. E agora eu tô em todos os grupos de WhatsApp da polícia — comemora Tiano, como é conhecido.
Durante a participação ao vivo na Rádio Gaúcha, o imitador subiu o tom da "sirene orgânica" e arrancou olhares apreensivos dos motoristas no cruzamento das avenidas Nilo Peçanha e Veríssimo do Amaral, bairro Chácara das Pedras. Suas publicações mais visualizadas e compartilhadas têm esse mote: o espanto do condutor que acredita, por um instante, estar sob observação de alguma viatura da Brigada Militar. Para a polícia, o caso mereceu “investigação”, mas já foi solucionado - com absolvição do suspeito - garante o tenente-coronel Carlos Alberto Cardoso de Aguiar Junior, comandante do 37º Batalhão da BM.
— No início o pessoal achou um pouco estranho, mas aos poucos todos foram vendo que é uma coisa carinhosa. Já orientei do risco de fazer a sirene no meio do trânsito, mas ele explicou que avisa a pessoa da brincadeira. Não tem nenhum tom de deboche. O Tiano é um cara muito querido por todos – elogia o chefe do batalhão de Frederico Westphalen.
A proximidade com os brigadianos é comprovada no “desafio de sirenes”: Tiano com um megafone retrucou os sinais do veículo oficial. O vídeo foi postado como reels do Instagram e atingiu 65 mil views.
Somente em duas ocasiões ele acabou repreendido por ludibriar os demais: quando adiantou o fim da aula, imitando o alerta na escola, e no dia em que uma dupla de agentes revistou seu carro à procura do equipamento.
— Eu fiz a sirene pra um carro que tava na minha frente e não vi que tinha uma viatura atrás. O policial me mandou parar, estacionei, ele desceu procurando a sirene e não achou. Um colega dele me reconheceu e os dois pediram pra eu fazer a sirene, pra comprovar que era eu mesmo. No fim eles pediram pra eu repetir, gravaram e enviaram para o batalhão — se diverte.
Quando sai do Rio Grande do Sul, o artista estuda a forma local das abordagens. Resumidamente, os timbres se distinguem para o sinal de “dar passagem” e o de "encostar".
— Olha lá o motoqueiro – aponta, soltando a sirene em seguida, com reação imediata do piloto.
Os shows, nos últimos três meses, se concentraram em Santa Catarina e nas cidades na divisa com o estado vizinho. Mas a notoriedade ganha por vídeos que viralizaram, atingindo 30 milhões de visualizações, gerou convites para casas da Região Metropolitana – em 8 e 9 de julho, ele estará na Capital e em Alvorada, e no final de semana passado se apresentou no Buteco Comedy Bar, de Canoas, e no Porto Alegre Comedy Club. Os próximos 30 dias terão uma média de um espetáculo a cada dois dias.
No palco, o humorista interpreta o vigilante Adelar Noronha, e mistura o tema da segurança pública com a admiração que tem pelos policiais.
— Eu quero valorizar o trabalho da polícia. Tem gente que diz que é crime, é errado, mas não é essa a minha intenção. Utilizei da brincadeira para dar valor à corporação da Brigada – reitera.
A comparação com o personagem Larvelle Jones, da franquia de filmes Loucademia de Polícia, é frequente. No entanto, o jovem conheceu o dublador norte-americano, que se destacou como imitador de incontáveis sons na película dos anos 1980, somente agora.
— O meu pai é um que só assiste Loucademia de Polícia e Mazzaropi – brinca Ott, nascido na década de 1990.
Ouça a entrevista de Tiano Ott ao programa Gaúcha Hoje: