Tem um endereço do bairro Tristeza que está sempre florido, não importa a estação. E isso vem de bem antes da delimitação do bairro: a Floricultura Winge existe há 135 anos na zona sul da Capital. Fará 136 na próxima primavera.
Administrado pela quarta geração dos Winge, o negócio nasceu em 1886, quando Josef Winge se instalou ali. Juiz na Silésia (hoje, Alemanha), ele trouxe no navio um livro de horticultura e começou a produzir mudas de árvores frutíferas para vender aos agricultores.
O filho Walter herdou e expandiu o negócio. Ele foi aos jardins botânicos do Rio de Janeiro e de Buenos Aires para trazer sementes e mudas e percorreu o interior do Estado de trem com um catálogo que descrevia cada espécie vendida na floricultura.
Com sua morte, em 1956, passou o negócio para os filhos Edgar e Beno, que começaram a implantar a ideia de garden center, com todo tipo de produto para jardinagem. Essa geração foi sucedida por Alexandre e Walter, primos à frente do viveiro (transferido para a Restinga) e da floricultura hoje.
Nascido e criado ali, Walter viu a urbanização cercar a Winge, que resistiu à especulação imobiliária na Rua Doutor Mário Totta. Englobou outros atrativos, como o Café&Prosa e suas disputadas mesas ao ar livre, uma loja de produtos orgânicos e até aulas de ioga, transformando a floricultura em um dos passeios mais populares da Zona Sul. Estima-se que o lugar receba de 15 mil a 20 mil pessoas por mês.
Na manhã de quarta-feira passada (15), a autônoma Claudia Rocha, 65 anos, caminhava lentamente entre as flores. Ela até olhava folhagens para o apartamento, mas admitiu que isso era quase uma desculpa:
— É maravilhoso aqui, tem paz e tu respira ar puro. A gente precisa dar uma arejada.
Jairo Iopp Lorena, 64, que o diga. Trabalha ali há 44 anos, é vendedor e cuida do setor de temperos — arrancava, uma por uma, as folhas queimadas das plantas peixinhos naquela mesma manhã. Conta que o lugar teve um papel importante para os porto-alegrenses durante a pandemia de covid-19, como uma fuga do isolamento dentro de casa.
— Aqui elas encontraram um lugar gostoso e seguro. Melhor que estar nas praças, que é um perigo — comenta ele.
A floricultura vende plantas de interior e de jardim, incluindo espécies floridas mesmo próximo do início do inverno, tipo marianinha, quaresmeira roxa e mirta. Também vende vasos, adubos, sementes, pedras decorativas, mudas de árvore frutíferas ou de sombra. Planta que não está à venda é a grande figueira no meio do terreno, que assiste à quinta geração seguir os passos dos Winge: filha de Walter, Gabriela, 32, já trabalha na parte administrativa e financeira.
— É um desafio fazer parte da próxima geração na gestão da empresa — afirma ela.