Sem caixa registradora, maquininha de cartão ou etiqueta com preço. Sistema de segurança, tampouco — foi substituído por um guardião especial, como indica a única placa da banca a céu aberto instalada na Estrada Jorge Pereira Nunes, no bairro Campo Novo, zona sul de Porto Alegre:
"Não temos câmera, nosso vigia é Deus".
A quitanda, que recebe contribuições espontâneas, é de Sildo Mundt, 66 anos, caseiro de um sítio no local. Tem estrutura de madeira e cobertura para os alimentos, colocados em caixas em frente ao painel que cita a proteção divina.
O anúncio descreve também a forma como o pequeno comércio funciona: "Pegue as frutas que precisar e deixe a contribuição que achar justo. Se não tiver o que dar, pode pegar o que precisar".
— É para ajudar. Muita fruta acabava estragando, e eu vejo que tem gente que não pensa no próximo. Joga fora em vez de doar. Se todo mundo fizesse um pouquinho disso, o mundo seria melhor — afirma.
Mundt é natural de Agudo, município da região central do Estado. Na infância, com a família, aprendeu a lida no campo.
Conta que, ao ver vizinhos em dificuldade na área rural da Capital, teve a ideia de repartir a colheita, que em alguns dias inclui aipim, chuchu, banana e mamão, além da grande variedade de laranja, limão e bergamota. Atualmente, diz ter mais doações do que vendas.
— Tem mais ou menos um ano que coloquei isso aí. As frutas sempre saem, mas o valor que as pessoas deixam diminuiu. Só que o dinheiro não é o mais importante pra mim e sim que elas levem pra casa.
Na manhã desta segunda-feira (9), o ponto bem organizado recebeu visitas antes das 7h: a caminho do trabalho, um morador da região perguntou quanto custava o quilo dos frutos. Ouviu que poderia deixar o que quisesse ou levar de graça, que não haveria qualquer constrangimento. O homem então encheu uma sacola e colocou R$ 2 no cofrinho.
Mundt vive sozinha na propriedade da Zona Sul. Ou melhor: tem a companhia de 10 gatos e outros tantos cães, pássaros, marrecos e de uma vaca de leite. Provocado se trocaria o sossego do local de pouco trânsito, acessado por uma via de chão batido, disparou:
— Me colocar em um apartamento? Seria o mesmo que me botar em uma prisão.