A Universidade Federal do Pampa (Unipampa) inicia 2022 com prejuízos de R$ 500 mil provocados por incêndios que atingiram o campus em Uruguaiana, na Fronteira Oeste. As chamas que iniciaram em propriedades rurais se alastraram e afetaram as instalações da universidade, às margens da BR-472. O laboratório de Aquicultura Ornamental foi parcialmente destruído pelo incêndio que durou mais de 12 horas no primeiro dia do ano, assim como cerca de 30 hectares do terreno da faculdade que atende cerca de 2,5 mil alunos.
As chamas atingiram equipamentos de dois cursos da universidade: Medicina Veterinária e Tecnologia em Aquicultura — este último está em processo de extinção para dar lugar a Engenharia de Aquicultura, o primeiro do Rio Grande do Sul, a partir de início deste ano letivo.
Também foram destruídos o cercamento; a vegetação da fazenda escola, que servia de alimento aos 200 animais criados na universidade, entre bovinos, ovinos e equinos; e antiga sede dos funcionários também foi destruída
— Além dos prejuízos materiais, estimamos que haverá dificuldades iniciais para o novo curso, já que várias atividades ficam comprometidas em função dos materiais que foram perdidos no incêndio. O laboratório novo não ficará completo — disse nesta quarta-feira (19) a diretora do campus, Cheila Stopiglia.
O pampa gaúcho tem registrado diversos focos de incêndio — vento e a vegetação seca proporcionam rápido alastramento das chamas. O Corpo de Bombeiros de Uruguaiana e o Exército auxiliaram no combate às chamas. Segundo o Comando Militar do Sul, além da ação diante do fogo, caminhões-pipa das organizações militares também estão ajudando as prefeituras na distribuição de água para famílias atingidas diretamente pela estiagem.
O prefeito Ronnie Mello informou que encaminhou nesta semana ofício ao governo do Estado solicitando efetivo maior para Uruguaiana e toda a Fronteira Oeste.
Fogo irresponsável
Em outro ponto de Uruguaiana, pelo menos seis propriedades rurais foram severamente afetadas por um incêndio de grandes proporções no último domingo (16). O fogo consumiu campos, cercas e alguns animais que não conseguiram fugir por entre as telas que rodeiam as fazendas.
Entre os produtores afetados, está a família de Vânia e Leandro Dornelles, arrendatários de uma área às margens da BR-472. As chamas consumiram entre 80 e 100 hectares do território deles de 200 hectares. Quando perceberam a chegada do fogo, potencializado pelo vento de 50 km/h, tiveram tempo apenas de salvar os animais.
Ficamos em estado de choque, mas graças a Deus conseguimos salvar os bois, as vacas e as ovelhas.
LEANDRO DORNELLES
Produtor
— Ficamos em estado de choque, mas graças a Deus conseguimos salvar os bois, as vacas e as ovelhas. Conforme os relatos que recebemos a tragédia ocorreu por conta de uma irresponsabilidade. Naquele dia quente, mais de 40 graus, fizeram um fogo de chão em um camping improvisado das proximidades — disse Leandro.
Diante do fato, se comprovado, os produtores rurais deverão ingressar com uma ação coletiva contra o proprietário do estabelecimento onde as chamas começaram a se propagar. Um boletim de ocorrência foi feito na Polícia Civil.
Animais mortos no campo
Desde que os incêndios se intensificaram em Uruguaiana e Campanha, as regiões mais afetadas são Carumbé, Imbaa e Queimada. Já são pelo menos 8 mil hectares de campo queimados, segundo projeção do Sindicato Rural uruguaianense. A estiagem já dura meses e, segundo produtores que fazem a medição das chuvas, a última precipitação forte ocorreu em outubro, com 40 mm.
Em incêndio no campo seco pela carência de água na localidade de Passo da Cruz, cerca de 15 km da BR-472, animais morreram queimados e alguns ainda estavam feridos na tarde desta quarta-feira (19). Na propriedade ao lado, o agricultor Carlos Ulisses Maia conta que as chamas se alastraram muito rápido depois que estourou o fusível de um poste na fazenda atrás da dele. Ele trabalhava na mangueira quando o sinistro iniciou:
— Recém estou me recuperando e volta a todo momento o que aconteceu, não consigo dormir. Ainda não estou acreditando no que aconteceu, era um fogo alto, de três metros de altura, e só consegui salvar as ovelhas. Vieram os bombeiros, não adiantou. Lutar contra o fogo não é brincadeira.
Em nota, a RGE informou que segue trabalhando no restabelecimento das redes atingidas pelos incêndios dos últimos dias. Foram impactados pelo menos 29 postes em Uruguaiana e 74 em Alegrete. Nessa quarta, havia 18 equipes, munidas de retroescavadeiras e um caminhão perfuratriz, executando as manutenções.