Os primeiros 17 dias deste ano já apresentam aumento de 178% nos focos de incêndio em mata e vegetação. São 1.889 pontos desde 1º de janeiro — no mesmo período de 2021, eram 679. Segundo o Corpo de Bombeiros, chamas estariam consumindo campos na Fronteira Oeste. Há ainda registro de animais morrendo devido ao fogo.
Dirigentes de associações agrícolas de Alegrete e Uruguaiana afirmam que desde os anos 1980 não havia uma situação tão drástica em termos de queimadas na região. O presidente da Associação dos Arrozeiros uruguaianense e vice-presidente da Federarroz, Roberto Fagundes Ghigino, ressalta que a situação é grave no município.
Os incêndios começaram ainda em dezembro, se intensificando a partir dos últimos 15 dias. Já são 8 mil hectares queimados somente em Uruguaiana, sendo que algumas propriedades tiveram 90% de destruição, afetando pasto e alimento para os animais.
— A maioria dos incêndios tem começado a partir da beira de estrada, ocasionados por fios arrebentados, que geram faíscas, e mesmo por conta de lixo queimado. Os bombeiros têm feito o possível, assim como a aviação agrícola também está fazendo o que é viável para combater as chamas — diz Ghigino.
Com mais de 70 dias sem chover forte na região, os estragos provenientes dos incêndios se somam às quebras na produção, que poderá afetar até 25% das lavouras de arroz em Uruguaiana.
— Já é uma tragédia. Não temos dados consolidados, mas são muitos animais mortos por conta do fogo. Há propriedades, máquinas e galpões destruídos. No desespero, também há produtores que estão cortando as cercas para que os animais fujam do fogo e não morram queimados — disse a presidente da Associação dos Arrozeiros de Alegrete, Fátima Marchezan.
Em razão da estiagem, de acordo com levantamento da Emater e estimativa da associação alegretense, já são mais de R$ 40 milhões em prejuízos na lavoura de arroz, sem incluir os danos nas produções de soja, milho, gado de corte e leite. Fátima estima que as queimadas já consumiram cerca de 10 mil hectares de pasto, conforme relatos dos produtores.
Neste domingo (16), pelo menos 10 focos de fogo foram registrados em um perímetro de 20 quilômetros de uma estrada municipal de Alegrete, a ALE-462. Entre as áreas afetadas, está a fazenda Sá Brito, que teve cerca de 800 dos 3 mil hectares queimados.
— O incêndio começou por volta do meio-dia de domingo e seguiu noite adentro. Ainda não tenho o levantamento pronto, mas é muito campo e instalações destruídas pelo fogo — disse o fazendeiro e presidente do Sindicato Rural de Alegrete, Luiz Plastina Gomes.
Com isso, os produtores rurais da região também decidiram registrar um boletim de ocorrência na Polícia Civil. Além disso, a Defesa Civil foi contatada para que seja formada uma brigada de incêndio, no sentido de capacitar pessoas no combate às chamas.
Diante de alguns boatos, a concessionária RGE emitiu uma nota na tarde desta segunda-feira (17), informando "que não procedem as alegações de que as queimadas que vêm ocorrendo com enorme frequência no Rio Grande do Sul sejam causadas pela rede de distribuição de energia elétrica". Apenas em uma queimada nesse domingo, 46 postes foram destruídos pelo fogo em Alegrete. A empresa ainda reforçou que as "queimadas podem ter causas diversas, inclusive o calor e a estiagem que assola o estado, mas não são provocadas pela rede elétrica".
Alerta nas estradas
Com o aumento nos incêndios registrados no pampa, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) adverte os motoristas para alguns cuidados aos avistarem nuvens provocadas pelo fogo. Uma dos principais medidas é reduzir a velocidade, mas nunca parar o veículo no meio da fumaça devido ao risco de colisões frontais ou traseiras e possibilidade intoxicação.
— Ao se deparar com um ponto da rodovia em que está esteja com queimada, os usuários devem redobrar atenção porque a visibilidade fica comprometida. O risco nestes casos é enorme, pois assim como a visibilidade está ruim para determinado usuário, estará também para aquele que trafega em sentido contrário, em especial, se for em pista simples — ressalta o chefe da delegacia da PRF em Pelotas, Fabiano Goia.
Em caso de incêndios na mata, os condutores devem ligar o sinal alerta e acender faróis. Além disso, as pessoas podem contribuir não jogando lixo na rodovia, bitucas de cigarros e outros produtos que possam intensificar um possível foco de incêndio.