A estiagem segue inclemente no Rio Grande do Sul, elevando para 11 o número de bacias hidrográficas em estado de alerta. O panorama, porém, é considerado ainda mais grave, pois, das 25 grandes áreas de drenagem de rios no Estado, em 11 não é possível sequer aferir com precisão o grau de queda no volume de água. No Rio dos Sinos, a seca provocou a morte de peixes na segunda-feira (3).
Segundo especialistas da Sala de Situação da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, o pior cenário é nas bacias do Gravataí e do Sinos, embora também estejam em nível crítico os rios Camaquã, Santa Maria, Ibicuí, Negro, Taquari, Guaíba, Baixo Jacuí, Caí, Sinos e Alto e Médio Uruguai.
— A chuva que caiu no final de semana não fez nem cócegas nos rios gaúchos e houve uma piora geral, agravada pelas altas temperaturas. Mesmo estando em condição crítica, o nível segue baixando, o que reduz não só a quantidade de água como a qualidade. Isso aumenta o número de algas e reduz o oxigênio — explica a hidróloga Marcela Nectoux.
Foi essa combinação que resultou no aparecimento de centenas de peixes mortos em São Leopoldo. De acordo com o secretário municipal do Meio Ambiente, Anderson Etter, a prefeitura criou um comitê de crise para monitorar o volume do rio e a eventual mortandade de mais espécies. Atualmente, 30 municípios da região são abastecidos com água do Rio dos Sinos.
— Estamos em estado de alerta. Felizmente, hoje não surgiram mais peixes mortos, mas o calor excessivo, a queda no nível do rio e a falta de oxigenação produzem esse efeito. Nosso monitoramento é constante — afirma Etter.
Em condições normais, o nível do rio em São Leopoldo é de 2,5 metros. Agora, está abaixo da metade, em 1,1 metro. Ex-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos e do Serviço Municipal de Água e Esgoto, Etter afirma que por enquanto não há risco de desabastecimento. Todavia, diferentemente do Rio Gravataí, no Sinos não há sequer um acordo vigente determinando a suspensão de captação de água por produtores de arroz quando o nível chegar a 50 centímetros.
Nesta quarta-feira, a secretária estadual da Agricultura, Silvana Covatti, deve se reunir com o governador Eduardo Leite para discutir ações de combate à seca. Desde a semana passada, praticamente dobrou o número de cidades em situação de emergência, passando de 76 para 113 os decretos editados por prefeitos de todas as regiões.
Conforme levantamento feito pela Emater/RS, há 5.475 famílias sem acesso à água no Estado. A estiagem afeta 6.340 localidades, disseminando prejuízos em 138.854 propriedades rurais, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste. Por enquanto, as culturas de milho e soja são as mais atingidas, com 101,4 mil produtores relatando perdas.