Juiz aposentado e empresário do ramo da construção civil, Pedrinho Bortoluzzi prestou depoimento, nesta sexta-feira (3), na condição de testemunha abonatória do réu Marcelo de Jesus dos Santos, vocalista da banda Gurizada Fandangueira. No dia da tragédia, Santos ergueu o artefato pirotécnico que lançou fagulhas em direção ao teto, dando início ao incêndio ao alcançar a espuma que revestia o ambiente do palco.
Bortoluzzi, indagado inicialmente pelo juiz Orlando Faccini Neto, presidente do júri, comentou que, dentre 2011 e 2021, contratou Santos pelo período total de 53 meses para a realização de serviços de azulejista na construção de prédios.
—Sempre foi correto, uma pessoa calma, tranquila, excelente profissional e respeitador —descreveu Bortoluzzi.
Ele disse não ter conhecimento sobre detalhes do processo contra Santos, acusado como autor de 242 homicídios simples na tragédia da Kiss, junto de outros três réus. O depoente contou apenas ter tomado ciência dos fatos pela imprensa. Por isso, ele atuou como testemunha abonatória, um expediente usado para que pessoas falem sobre a conduta do réu para além do episódio em julgamento. Bortoluzzi ainda respondeu a perguntas da advogada Tatiana Borsa, defensora de Santos. Contou que, depois da Kiss, ele teve dificuldade para arrumar empregos. Narrou que se trata de uma pessoa simples e que, diante da escassez de trabalho, “passou dificuldade”. Bortoluzzi seguiu empregando Santos periodicamente ao longo dos últimos anos, com salários em torno de R$ 2,1 mil.
— É uma pessoa que eu contrataria sempre. É um empregado que qualquer empregador gostaria de ter. É disciplinado, assíduo, preocupado com os demais colegas. Como pessoa, é um sujeito bom, bonachão, amigo de todo mundo — relatou Bortoluzzi.
O magistrado aposentado ainda comentou que, depois de contrair covid-19 em 2021, Santos necessitou de internação em UTI, ocupando no hospital a vaga deixada pela própria mãe, que faleceu. Depois disso, passou a precisar de tratamento de saúde mais frequente. O Ministério Público, órgão de acusação, questionou o depoente se ele tinha conhecimento de que Santos não avisou ao público no microfone sobre o incêndio na boate. Bortoluzzi disse que Santos costuma ser econômico nas palavras sobre a tragédia da boate Kiss.
— Ele sofre com isso. Não teria porque eu mentir aqui. A vida dele mudou completamente, o fato foi muito grave e ele tem consciência. Ele fala pouco sobre isso. O que ele me disse, chorando, é que jamais teria acendido (erguido, quem acendeu foi o réu Luciano Bonilha Leão) aquele fogo se soubesse o que iria acontecer — finalizou Bortoluzzi.
Esse foi o terceiro depoimento desta sexta-feira — o terceiro dia de júri da boate Kiss. Antes do início do depoimento de Bortoluzzi, instadas pelo Ministério Público, as bancadas de defesa indicaram concordância em abrir mão de uma testemunha cada para dar maior celeridade ao júri.