Uma equipe da TV Bahia, filial da Globo, sofreu agressões em Itamaraju, município baiano, por parte de seguranças e apoiadores de Jair Bolsonaro. O caso ocorreu neste domingo (12) durante visita do presidente à cidade, que foi uma das mais atingidas pelas recentes enchentes na região.
A repórter Camila Marinho e o cinegrafista Clériston Santana estavam aguardando o pouso do helicóptero do presidente no Estádio Municipal Juarez Barbosa. Quando Bolsonaro desceu da aeronave, as equipes da TV Bahia e da TV Aratu, filial do SBT, tentaram se aproximar do presidente para entrevistá-lo. Foi então que a equipe de segurança do político bloqueou a passagem dos profissionais.
Um dos seguranças que estavam próximos da repórter Camila Marinho agarrou a jornalista pelo pescoço com a parte interna do antebraço. Enquanto isso, outros integrantes da equipe de segurança tentaram impedir que os jornalistas erguessem os microfones em direção ao presidente.
Quando os equipamentos começaram a esbarrar nos seguranças, houve acusações, por parte da equipe de guarda do presidente, de que os jornalistas estariam batendo em suas costas.
Os jornalistas também foram alvo de agressões de apoiadores do presidente. Os profissionais da TV Aratu Dário Cerqueira e Xico Lopes, também foram vítimas. Durante o tumulto, até a pochete da repórter Camila Marinho foi arrancada. O item foi recuperado posteriormente por um funcionário de outra emissora.
Depois que saiu do helicóptero, o presidente acabou subindo na caçamba de uma camionete, ainda dentro do estádio e seguiu para a sala de comando da operação, dentro de uma escola. Devido à confusão, as equipes de reportagem não conseguiram acompanhar Bolsonaro.
Os jornalistas só conseguiram acesso ao local quando a assessoria de imprensa do presidente chamou os repórteres. Nesse momento, um dos seguranças pediu desculpas aos profissionais pelo ocorrido.
Repercussão
A repórter Camila Marinho utilizou suas redes sociais, nesta segunda-feira (13) para falar sobre o caso.
"Nenhuma ameaça nos tira da nossa missão de informar. Só lamento a truculência, o ódio e a covardia dos que se acham melhores e acima de tudo e de todos. Somos trabalhadores exercendo o nosso papel: jornalistas em busca dos fatos e da verdade. Mas antes de tudo somos seres humanos. E o mínimo que queremos é respeito", publicou a jornalista.
A TV Globo se manifestou sobre o ocorrido e divulgou uma nota de repúdio à violência sofrida pelos jornalistas.
"As agressões deste domingo mostram que já passou da hora de a Procuradoria-Geral da República dar o seu parecer na ação que corre no Supremo, tendo como relator o Ministro Dias Toffoli. A imprensa cumpre um direito inscrito na Constituição e deve ter a sua segurança garantida", disse a emissora em nota.
O governador da Bahia, Rui Costa (PT), prestou solidariedade aos jornalistas em uma publicação nas redes sociais.
— A liberdade de imprensa é pilar fundamental da democracia e qualquer ataque ao jornalismo merece repúdio. O momento é de trabalho e solidariedade no extremo sul. Repudio violência contra a imprensa e oportunismo num momento de dor diante de uma tragédia. Vamos trabalhar — escreveu.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) também se manifestou sobre o caso. "A Abraji repudia as agressões e demanda que as autoridades competentes orientem a equipe de segurança do presidente para que respeite o trabalho dos jornalistas, pois lamentavelmente esse tipo de agressão vem se repetindo. Além disso, exige que Jair Bolsonaro cesse os ataques verbais contra a imprensa, os quais incentivam sua militância a agredir repórteres e impedir seu trabalho, o qual é garantido pela Constituição Federal", publicou a instituição.