Familiares de vítimas mortas na boate Kiss têm manifestado contrariedade com os depoimentos dos quatro acusados pelo incêndio que deixou 242 vítimas, mas até o momento as maiores críticas se dirigem ao réu Mauro Hoffmann.
Ex-sócio da danceteria, ele afirmou desconhecer os riscos que a casa noturna oferecia (algo que os outros réus também disseram), mas ao final da sua fala, ofereceu um terreno de sua propriedade para transformar em memorial aos mortos na tragédia.
— Tenho essa área, hoje embargada pela Justiça. O terreno pode servir para plantio de 242 ipês, colocação de cruzes, uns bancos para o pessoal tomar mate. É hora de Santa Maria superar essa dor — ofertou Maurinho, em sua última manifestação no júri.
GZH ouviu familiares de vítimas, que se manifestaram contrariados.
— Nem sei o que dizer. Não era o momento de fazer essa oferta. Aliás, ele nunca procurou a associação nem os advogados dele. Nunca disse uma palavra de conforto a famílias, algumas das quais ficaram sem o provedor — desabafa Áurea Viegas Flores, da Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM).
Áurea é mãe de Luís Eduardo Viegas Flores, que era oficial escrevente no fórum de Três Passos e cursava Direito na Unijuí. Ele morreu no incêndio. Estava em Santa Maria para reencontrar colegas, pois cursara Ciência da Computação naquela cidade.
Paulo Flores, pai de Luís Eduardo, lembra que o filho queria ser promotor e, certamente, “gostaria de atuar num caso como esse”. Ele considera a oferta de Maurinho “infeliz”.
— É uma tentativa de se livrar da culpa no episódio. Todos eles tentam. Mas nós fazemos aqui nosso papel, alertar a sociedade que não esqueça de todas as falhas que levaram a essa tragédia sem igual.